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Ozarfaxinars
e-revista ISSN 1645-9180
Direção: Jorge Lima Edição e Coordenação: Fátima Pais
___67___
Fevereiro 2017
E Singapura aqui tão perto...
Uma síntese de Fátima Pais e Jorge Lima
Numa altura em que o Ministério de Educação está a pôr em prática, com as escolas, o PNPSE - Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, prosseguimos, com este número da OZARFAXINARS, a nova linha editorial dedicada a um olhar sobre sistemas educativos capazes de produzirem resultados de aprendizagem de excelência, reconhecidos a nível mundial como ambientes potenciadores de escolas inovadoras.
Para começar
Singapura ocupa o primeiro lugar do Programa de Avaliação Internacional de Alunos (Pisa),
uma iniciativa trienal da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Este programa abrangeu, na sua última edição,
540 mil estudantes de 15 anos em 70 países.
Para além da reprodução de conhecimentos adquiridos,
esta prova (de Ciências, Matemática e Leitura) permite avaliar se o aluno é capaz de os aplicar
em situações pouco familiares e fora da escola.
Atualmente com cerca de 5,5 milhões de habitantes, Singapura,
colónia britânica até 1965, assolada por níveis extremos de analfabetismo,
soube, em poucas décadas,
catapultar o seu sistema educativo para o topo mundial.
As grandes apostas desse sistema foram,
de 1965 a 1979 o combate ao abandono escolar,
de 1979 a 1996 a cultura da eficiência,
de 1997 a 2011 o conhecimento baseado em aspirações diferentes
e, a partir de 2012, o ensino para os valores, centrado nos alunos.
O sistema educativo de Singapura
A vida escolar começa, em Singapura, aos quatro anos de idade,
na Pré-Escola, que tem a duração de 2 anos.
Aos seis tem início a Educação Primária, que dura 6 anos.
Na Educação Primária, os alunos estudam Língua Materna, Inglês, Ciências,
Matemática, Música, Artes, Educação Moral e Cívica, Educação para a Saúde,
Estudos Sociais e Educação Física.
No final da Educação Primária surge o primeiro exame
que determina os estudos posteriores.
Dependendo da nota obtida nesse exame
os alunos ingressam na Escola Secundária
distribuídos por diferentes programas curriculares
de que são exemplo:
Special Programme
(que aposta no ensino da língua materna de nível avançado),
Integrated Programmes
(destinado a alunos com elevado potencial para ingressar na universidade),
Specialised Programmes
(para alunos de áreas específicas no domínio das artes ou do desporto, por exemplo).
A Escola Secundária tem a duração de 4 a 5 anos
no final da qual os alunos realizam um exame.
Segue-se o Nível Pré-Universitário,
equivalente ao Ensino Secundário em Portugal,
com a duração de 2 ou 3 anos
que termina com a realização de exame.
um dos fatores de admissão à universidade.
A denominada Educação Pós-Secundária
inclui universidades, escolas politécnicas, o Instituto de Educação Técnica,
o College of the Arts e a Nanyang Academy of Fine Arts.
No país há instituições de ensino públicas e privadas.
Finalidades do sistema educativo em Singapura
No final da Educação Primária
o aluno deve ser capaz de:
- Distinguir o "bem" do "mal";
- Conhecer as suas potencialidades e áreas de desenvolvimento;
- Cooperar, partilhar e preocupar-se com os outros;
- Ter curiosidade;
- Pensar por si e expressar-se com confiança;
- Ter gosto pelo seu trabalho;
- Adotar hábitos saudáveis;
- Realizar um primeiro contacto com as artes;
- Conhecer e amar Singapura.
No final da Escola Secundária
o aluno deve ser capaz de:
- Ter integridade moral;
- Acreditar nas suas capacidades e adaptar-se à mudança;
- Trabalhar em equipas e demonstrar empatia;
- Ser criativo e ter espírito inquisitivo;
- Apreciar pontos de vista diversos e comunicar eficazmente;
- Tomar a responsabilidade da sua aprendizagem;
- Gostar de atividades físicas;
- Apreciar as artes;
- Acreditar em Singapura e compreender o que é importante para o seu país.
No final do nível Pós-Secundário
o aluno deve ser capaz de:
- Ter coragem moral de defender o que considera correto;
- Demonstrar resiliência face à adversidade;
- Colaborar com outras culturas e ser socialmente responsável;
- Inovar e ser empreendedor;
- Pensar criativamente e comunicar de forma persuasiva;
- Empenhar-se na busca da excelência;
- Adotar um estilo de vida saudável;
- Apreciar a estética;
- Ter orgulho em ser um nativo de Singapura e compreender o papel do seu país no Mundo.
Adaptado de The Key Stage Outcomes of Education, Ministério da Educação de Singapura
Como Singapura melhorou o seu sistema educativo
Entrevista com Lee Sing Kong, ex-diretor do Instituto Nacional de Educação de Singapura
No início, foi importante garantir para toda a população
uma base sólida de literacia e fundamentos matemáticos.
Não é possível transportar um modelo de um lugar para o outro do mundo
porque as circunstâncias, as culturas e as situações são muito diferentes, .
mas foi possível evoluir e atingir um bom patamar
recolhendo a experiência de outros países
e realizando depois as adaptações necessárias.
O maior desafio foi a formação dos docentes.
A qualidade de um sistema educativo
não pode superar a dos seus profissionais.
A aposta é na formação de docentes
– se trabalharem melhor, não há dúvida que o ensino vai evoluir.
Singapura formou uma geração de docentes
que acredita que toda criança pode aprender.
Mas aqueles que educam precisam ser os primeiros a mudar.
Um docente que está cinco anos sem se atualizar, por exemplo, está obsoleto.
Por isso, o governo investe na formação contínua dos docentes,
100 horas de formação, por docente, por ano.
Os docentes em Singapura
aprendem a ser pesquisadores e a refletir
sobre as diferentes situações que surgem dentro das suas salas de aula.
O papel dos docentes é formar o futuro da nação.
Teach Less, Learn More
Na procura da excelência, em 2004, o Ministério da Educação de Singapura
lançou um novo rumo para a educação
que designou por Teach Less, Learn More.
De forma simples, esta visão estratégica,
constituiu uma refocagem sobre as três mais importantes dimensões da educação:
Porque ensinamos, O que ensinamos e Como ensinamos.
Teach Less, Learn More, segundo Pak Tee Ng
Diretor Associado do National Institute of Education (NIE), Nanyang Technological University
Porque ensinamos
Mais para o aluno...
Menos para cumprir o programa.
Mais para estimular a paixão de aprender...
Menos para fugir ao medo de falhar.
Mais para compreender conceitos essenciais e ideias...
Menos para debitar informação.
Mais para o teste da vida...
Menos para uma vida de testes.
O que ensinamos
Mais para a criança e para a visão dos fenómenos globais...
Menos para os assuntos dispersos e por si.
Mais para os valores, atitudes e posturas que sejam úteis na vida...
Menos para obter boas notas nos exames.
Mais para o processo de aprendizagem...
Menos para os resultados.
Mais para suscitar interrogações, encorajar a curiosidade e o espírito crítico...
Menos para respostas feitas.
Como ensinamos
Mais para uma aprendizagem ativa...
Menos para uma aprendizagem suportada em rotinas.
Mais para uma aprendizagem diferenciada conquistada pelos alunos...
Menos para uma aprendizagem igual para todos construída apenas com palavras do professor.
Mais apoiar, facilitar, encorajar o espírito de inovação e o empreendedorismo...
Menos dizer como é.
Mais avaliação formativa e qualitativa...
Menos avaliação sumativa e quantitativa.
O Método de Singapura
Dedicaremos próximos números da OZARFAXINARS ao chamado Método de Singapura,
um dos fatores do sucesso educativo deste país asiático.
Ligações recomendadas
[Sistema Educativo de Singapura]
Ministério da Educação de Singapura
[Why is Singapore’s school system so successful, and is it a model for the West?]
Hogan, D. (2014) in The Conversation.
Agradecemos, desde já, a sua opinião sobre este número - ozarfaxinars@gmail.com
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