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Ozarfaxinars
e-revista ISSN 1645-9180
Direção: Jorge Lima Edição e Coordenação: Fátima Pais
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Maio 2018
Ambientes Educativos Inovadores
- Um caminho possível
Ângelo Filipe Castro e Ana Medeiros
Os ambientes educativos inovadores (AEI) têm vindo a surgir cada vez mais, quer nos contextos educativos tradicionais, quer nos espaços de formação profissional. Estes ambientes pressupõem e englobam, de forma consistente, abordagens metodológicas não tradicionais, recorrendo a ambientes virtuais de aprendizagem com novas ferramentas e interações digitais, plataformas de interação e colaboração, com armazenamento de informação de fácil acesso e de forma globalizante.
Ângelo Filipe Castro, é licenciado em Física (Ensino de) pela Universidade da Beira Interior. Mestre (Pré-Bolonha) em Física Aplicada pela Universidade de Aveiro. Docente de Física e Química do Ensino Básico e Secundário desde 2002. (Nota curricular na íntegra)
Ana Medeiros, é licenciada em Física e Química (Ensino de) pela Universidade do Minho. Mestre (Pré-Bolonha) em Administração e Organização Escolar pela Universidade Católica Portuguesa desde 2009. Docente de Física e Química do Ensino Básico e Secundário desde 1996. (Nota curricular na íntegra)
Escola Básica de Leça do Balio (AE Padrão da Légua)
1. Introdução
A velocidade de resposta da escola a estas novas interações deve, cada vez mais, ser célere e capaz de proporcionar diferentes abordagens pedagógicas para ir ao encontro das competências que os alunos devem atingir. Associada a estas novas dinâmicas, aparece uma nova forma de estar e ser onde o aluno não consegue projetar nem mesmo imaginar como será o mundo quando atingir a idade adulta (qual a atividade profissional a seguir, as ferramentas em que se vai suportar, assim como as estratégias a adotar no seu mundo laboral e até o tipo de intervenientes com quem vai interagir), facto que determina a necessidade de estratégias de aprendizagem o mais diversificadas e abrangentes possível.
Estes desafios apoiam-se em novas ferramentas de aprendizagem que permitem adotar novas abordagens, nomeadamente, na forma como planeamos e organizamos o processo de ensino e aprendizagem. A diferença para o passado é que esta nova era sofre alterações a uma velocidade para a qual não estamos preparados.
Por tudo isto, surge a necessidade de repensar o papel do aluno e, consequentemente, o projeto educativo da escola. Impõem-se novas abordagens para os espaços físicos que identifiquem novas formas de chamar os alunos a colaborar e interatuar em ambientes cada vez mais tecnológicos. Por consequência é também indispensável repensar a formação contínua docente para ir ao encontro destes novos desafios.
Com este documento, pretendemos lançar dados, levantar questões, potenciar estratégias, e, acima de tudo, refletir sobre os novos papéis, de professor e aluno, nestes nestes novos ambientes de aprendizagem.
Assim, neste texto, propomos fazer uma abordagem partindo da experiência de dois professores em ambientes de aprendizagem inovadores em contextos diferentes, segundo o estado da arte destas temáticas, abordando as diversas variáveis a ter em conta na conceção, implementação e consolidação de um ambiente educativo inovador.
2. O Espaço Físico
AEI do CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria
da Construção Civil e Obras Públicas do Norte
Quando nos focamos nesta temática associamo-la sempre às "salas de aula do futuro". Esta designação deriva do projeto Future Classroom Lab (FCL), desenvolvido pela European Schoolnet (EUN), e que em Portugal se apresentam em mais de vinte e cincos instituições - Escolas, Agrupamentos ou Centros de Formação, sendo reconhecidas pela Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas (ERTE), da Direção-Geral da Educação (DGE).
A sala de aula proposta por este projeto divide-se em seis zonas de aprendizagem onde poderão ser desenvolvidas as diferentes atividades.
Interagir
Criar
Apresentar
Investigar
Partilhar
Desenvolver
Nestas salas são tidos em conta, especialmente, o conforto, a temperatura, a iluminação, a acústica e a flexibilidade, características que permitem ao aluno sentir-se integrados e no seu espaço, facto suportado por estudos que mostram que a progressão das aprendizagens está diretamente relacionada com as condições e organização do espaço físico que influenciam positivamente a aprendizagem e o comportamento dos alunos (Barrett, et al., 2015 [1]).
AEI do CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria
da Construção Civil e Obras Públicas do Norte
Esta organização educativa favorece e é favorecida pela implementação de dinâmicas pedagógicas inovadoras assentes, designadamente, em:
Aprendizagem por projetos
Aprendizagem colaborativa
Aula invertida
Programação e robótica
Avaliação formativa
O espaço físico de aprendizagem, no entanto, não deve estar só confinado às quatro paredes da sala, tornando-se amplo, alargado e intemporal, suportado pela facilidade de acesso à informação, à comunicação e à construção do conhecimento.
3. As ferramentas digitais
AEI do CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria
da Construção Civil e Obras Públicas do Norte
As ferramentas digitais são essenciais na planificação e conceção de um AEI.
Ao desenvolver as atividades de aprendizagem as ferramentas devem ser um apoio à aprendizagem, um meio, e não um propósito em si, pois, de outro modo, passariam a constituir fator de ruído e perturbação.
É fundamental a escola proporcionar uma educação digital efetiva, onde cada um encontra espaço para lidar, utilizar e aprender num contexto cada vez mais digital. Para isso, é importante, na planificação dos AEI, identificar as formas de apropriação das tecnologias digitais, a possibilidade das mesmas estarem online ou offline, sem comprometer o desenvolvimento das atividades de aprendizagem. Todavia, alerta-se para não centrar essas atividades em aplicações específicas. Deve-se diversificar ferramentas, definir rotinas, relacionar a utilização das tecnologias com a melhoria das aprendizagens e avaliar o seu impacto.
AEI do Agrupamento de Escolas Fontes Pereira de Melo
É importante que o aluno ao efetuar o seu percurso perceba como interagir, comunicar e criar conteúdo com ferramentas digitais, independentemente da fonte ou aplicação.
As ferramentas devem ser inseridas no processo de ensino e aprendizagem de forma a proporcionar momentos seguindo o modelo SMAR (Substitution Augmentation Modification Redefinition [2]). Este modelo associa as ferramentas digitais a uma mudança de prática pedagógica, evoluindo de um método expositivo, centrado no professor e na transmissão do conhecimento e conteúdo, para um método colaborativo, centrado no aluno e na criação de aprendizagens significativas.
4. O papel do Aluno
Escola Básica de Leça do Balio (AE Padrão da Légua)
Num AEI, o aluno assume a ação em qualquer contexto de um modo cada vez mais ativo e interativo. Para ele, deixa de fazer sentido a postura de recetor de informação que lhe era fornecida por alguém academicamente superior.
O aluno passa, assim, a ser o construtor do seu conhecimento. Através dos dispositivos tecnológicos acede à informação não numa perspetiva de consumidor de tecnologia mas de criador de conteúdo, comprometido com o seu processo de aprendizagem, desenvolvendo competências sustentadas num perfil académico, social e cultural sólido.
AEI do Agrupamento de Escolas Fontes Pereira de Melo
Contudo, a construção desse conteúdo tem que ser orientada pelo professor, num processo em que, no entanto, o lugar central é ocupado não pelo professor mas pelo aluno.
Perante a facilidade de encontrar a informação, cabe ao professor orientar o aluno para que este seja capaz de selecionar a que se considera mais correta, fidedigna, ética e segura.
Deste modo, competências como:
Literacia cívica
Consciência global
Literacia ambiental
Literacia financeira
Literacia na saúde
Literacia nos Media
Literacia de informação
Literacia nas TIC
Criatividade
Pensamento crítico
Colaboração
Comunicação
Produtividade
Prestação de contas
Liderança
Responsabilidade
Adaptação
Flexibilidade
Competências sociais e de articulação cultural
Iniciativa
Determinação
mostram-se essenciais para o cidadão em formação.
Num AEI é desejável que o papel do aluno seja do mais elevado nível de maturidade, como é enunciado no Guia de Referência [3] do Projeto Future Classroom Lab [4] (FCL),
“Os alunos são autónomos
e deram-lhes poder,
decidindo
como,
quando,
onde e o que aprender,
usando as tecnologias com confiança,
aplicando capacidades de pensamento crítico
e de resolução de problemas a um alto nível”.
Em jeito de conclusão, num AEI pretende-se que o papel do aluno vá ao encontro das competências do século XXI, subjacentes no Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória [5] preconizado pelo Ministério de Educação.
Este é um desafio partilhado por professores e alunos.
5. Trabalho colaborativo docente
AEI do CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria
da Construção Civil e Obras Públicas do Norte
O trabalho colaborativo é um desafio para a maioria dos docentes.
Na implementação de um AEI é fundamental o comprometimento e a capacitação de todos os docentes envolvidos num trabalho articulado e flexível, onde se revejam momentos de reorganização curricular, reflexão perante as aprendizagens dos discentes, numa ação conjunta, onde o todo é mais do que a soma das partes.
Assim sendo, após a definição das tendências metodológicas a seguir, os docentes deverão aferir e otimizar as suas valências, apresentando um conjunto de ferramentas tecnológicas, trabalhando em pares pedagógicos, solicitando formações de curta e longa duração que lhes permitam, em conjunto, otimizar a criação de novas atividades que se ajustem à execução do modelo.
Para tudo isto, é importante que a formação contínua se desenvolva em trabalho colaborativo entre docentes, em equipa, acompanhando as necessidades efetivas dos formandos.
AEI do CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria
da Construção Civil e Obras Públicas do Norte
Da sensibilidade experimentada e dos estudos explorados e acompanhados, reforça-se a necessidade de trabalhar a competência digital, como apoio ao trabalho colaborativo docente, quer seja presencial ou a distância.
Este modo de partilha torna o docente mais consciente do processo, o que lhe permitirá desenvolver as suas competências colaborativas elevando o trabalho individual para um nível mais propício à elaboração de novas experiências educativas, centradas em práticas mais interdependentes.
6. Consolidação do modelo
AEI do CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria
da Construção Civil e Obras Públicas do Norte
A sustentabilidade de um AEI depende das direções das organizações educativas cuja visão estratégica, elencada na sua carta de missão e apoiada em linhas orientadoras bem definidas, procurará dar resposta a uma espiral ascendente de processos que capacitem os docentes para dinâmicas dos AEI´s capazes de permitir criar rotinas do processo de ensino e aprendizagem mais flexíveis e potenciadoras das competências do século XXI.
Há que ter sempre presente que os espaços de aprendizagem são ambientes vivos, dinâmicos e que devem ser ajustados e reajustados consoante as necessidades dos alunos, onde estes serão responsabilizados e terão um papel ativo na definição de rotinas e na sua conceção.
A evolução dos mecanismos de um AEI inicia-se a partir da utilização das ferramentas digitais e evolui à medida que ganha maturidade. Num AEI as atividades de aprendizagem ocorrem de forma natural sem estarem centradas nas ferramentas digitais.
As estratégias de consolidação do modelo de um AEI passam por:
Criar redes de apoio,
em pequenos grupos de proximidade
Acompanhar os professores
na implementação de novas ferramentas e práticas
Desenvolver as plataformas de partilha de informação
Caminhar progressivamente
para uma alteração do paradigma pedagógico
Articular de forma efetiva
o espaço, a pedagogia e a tecnologia
Assim, a sustentabilidade de um AEI só será possível através da:
Manifestação de interesse
pelos professores por ações de capacitação
no âmbito de novas pedagogias em sala de aula
Sensibilização pela escola
de pais e encarregados de educação
para as novas dinâmicas de ensino e aprendizagem
Consideração e envolvimento direto dos alunos
em decisões pedagógicas
que promovam o seu processo de aprendizagem.
Referências
[1] Barret, Peter et al. (2015) The impact of classroom design on pupil´s learning: Final results of a holistic multi-level analysis. Building and Environment, v.89 (Voltar)
[2] Desenvolvido por Dr. Ruben Puentedura (tradução: Substituição; Amplificação; Modificação; Redefinição) (Voltar)
[4] http://fcl.eun.org/ (Voltar)
[5] http://www.dge.mec.pt/noticias/perfil-dos-alunos-saida-da-escolaridade-obrigatoria (Voltar)
Outra referência
Ambientes Educativos Inovadores, Agrupamento de Escolas de Amarante, Ana Baptista, in YouTube
Notas curriculares dos autores
Ângelo Filipe Castro, licenciado em Física (Ensino de) Universidade da Beira Interior. Mestre (Pré-Bolonha) em Física Aplicada pela Universidade de Aveiro. Docente de Física e Química do Ensino Básico e Secundário desde 2002. Formador de formação contínua de Professores na área da Física e Tecnologia Educativa no ensino básico e secundário. Formador convidado, na área da Tecnologia Educativa, para a formação contínua de docentes da Universidade do Porto. Faz parte da equipa Virtual Team do projeto UAARE (Unidade de Apoio ao Alto Rendimento Escolar), da Direção Geral de Educação, onde efetua a formação contínua de professores, desenvolvimento e gestão de conteúdos digitais no âmbito de cenários de apoio à aprendizagem presencial ou a distância. Co-Responsável pela planificação e desenvolvimento, do ambiente educativo inovador, com o nome Espaço Transdisciplinar em Construção (ETC), baseado no projeto Future Classroom Lab, instituído na Maia no CICCOPN - 2016. Co-Responsável pelo desenho pedagógico e implementação da sala Aprender +,no Agrupamento de Escolas Fontes Pereira de Melo, no âmbito do projeto da Unidade de Apoio ao Alto Rendimento Escolar (UAARE), reconhecida pela ERTE-DGE como um ambiente educativo Inovador. Formador do Ano 2015 (prémio atribuído pelo portal forma-te no Encontro Nacional de formadores). (Voltar ao início)
Ana Medeiros licenciada em Física e Química (Ensino de) Universidade do Minho. Mestre (Pré-Bolonha) em Administração e Organização Escolar pela Universidade Católica Portuguesa desde 2009. Docente de Física e Química do Ensino Básico e Secundário desde 1996. Formadora de formação contínua de Professores na área da Administração Educacional, Organização do Sistema Educativo, Práticas de Administração Escolar, Conceção e Organização de Projetos Educativos e Didática da Física e Química no ensino básico e secundário. Coordenadora de Projetos Comenius e Erasmus+ desde 2010. Moderadora de Cursos eTwinning a nível europeu desde 2014. Embaixadora dos Laboratórios de Aprendizagem, ERTE - DGE, desde 2015. (Voltar ao início)
Agradecemos, desde já, a sua opinião sobre este número - ozarfaxinars@gmail.com
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