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Ozarfaxinars
e-revista ISSN 1645-9180
Direção: Jorge Lima Edição e Coordenação: Fátima Pais
___89___
Abril 2020
Ensino a Distância em tempos de “guerra” – COVID-19
Jorge Lima e Fátima Pais
Para começar
Vivemos tempos inusitados… A Pandemia COVID-19 fez-nos recolher de um dia para o outro em nossas casas em tão pouco tempo que não nos deixou espaço para a perplexidade. Demoramos uma semana a perceber o que nos tinha atingido, desestruturando praticamente (esperemos que temporariamente) toda a organização económica, social, escolar… a níveis que se torna impossível não associar a cenários de filmes futuristas, catastrofistas, apocalíticos…
Passado o primeiro embate, a nossa resiliência entrou em ação e fez-nos encontrar energias onde se estavam a tentar alojar desalentos…
Os profissionais de saúde são, sem dúvida, os guerreiros na linha da frente de combate a essa enorme perversidade em forma de vírus… a eles ficaremos a dever sobrevivência… gratidão infinita! Observar a sua atividade incansável de cada dia impele-nos, a cada um de nós, seja em que outro ramo de atividade for, a arregaçar as mangas e a tentar replicar no nosso campo de ação tudo o que formos capazes de fazer para restabelecer a nossa organização, provavelmente, não nos mesmos moldes que a conheciamos, mas em novas formas.
Aos professores cabe o desafio de, praticamente de um dia para outro, passar de ensino presencial a ensino a distância. Os estudiosos destas matérias, em condições normais, levariam as mãos aos céus em lamentos de negação. Só que, de momento, não temos tempo para isso! A realidade, mais uma vez, ultrapassa as mais ousadas conjeturas e exige-nos a tomada de medidas, não porque sejam as mais apropriadas, talvez, mas antes e, simplesmente, por que tem que ser! O Ensino a Distância, neste momento inimaginável da nossa história coletiva, “tem que ser”!
Compreendemos as palpitações e os temores que tentam
apoderar-se de muitos de nós face a este “abominável ensino novo”… o “a
distância”….
Bem, para começar não se trata de “ensino novo” e para continuar não é “ensino à
distância” mas “ensino a distância”… é um
ensino em que professor e aluno se encontram distantes fisicamente, não é um
ensino à Dona Distância… Essa senhora, não a conhecemos, nem temos nada para lhe
ensinar!
J
Esta era a primeira frase do saudoso Professor Altamiro Machado, docente da
Universidade do Minho, para os seus alunos da cadeira de Ensino a Distância.
1. O que é o Ensino a Distância?
O Ensino a Distância - E@D -
é uma modalidade de ensino que se constitui como uma alternativa de
qualidade para os alunos impossibilitados de frequentar presencialmente uma
escola, e que é atualmente alicerçada na integração das tecnologias de
informação e comunicação (TIC) nos processos de ensino e aprendizagem como meio
para que todos tenham acesso à educação. Os avanços no domínio dos sistemas
tecnológicos permitem a configuração de ambientes virtuais de aprendizagem, com
funcionalidades de integração pedagógica, permanentemente acessíveis a todos os
participantes no processo educativo, em especial aos professores e aos alunos.
Esta modalidade é sustentada em novas abordagens pedagógicas nos modos de
ensinar e aprender, bem como em inovações ao nível da organização e gestão
curricular, que atendam às necessidades específicas dos seus destinatários e aos
contextos particulares em que se encontram, garantindo, em simultâneo, a
necessária segurança da informação. A flexibilidade de tempo e de lugar
proporcionada pelo ensino a distância permite que cada aluno desenvolva o seu
percurso educativo e formativo ao ritmo que melhor se compatibiliza com a vida
pessoal, familiar e escolar.
No Ensino a Distância podemos considerar sessões
síncronas e sessões assíncronas. Sessões síncronas
desenvolvem-se em tempo real e permitem aos alunos interagirem online
com os seus professores e com os seus pares para participarem nas atividades
letivas, esclarecerem as suas dúvidas ou questões, apresentarem trabalhos,
designadamente no chat ou em videoconferências. Sessões assíncronas,
desenvolvem-se em tempo não real, em que
os alunos trabalham autonomamente, acedendo a recursos educativos e formativos e
a outros materiais curriculares disponibilizados na plataforma de aprendizagem
online, bem como a ferramentas de comunicação que lhes permitem estabelecer
interação com os seus pares e professores, em torno das temáticas em estudo.
2.
Quais as
principais diferenças entre o Ensino Presencial e o Ensino a Distância? O Ensino
a Distância terá alguma vantagem relativamente ao Ensino Presencial?
No essencial, todas as dimensões da atividade docente que suportam o Ensino Presencial, envolvidas na gestão e dinamização das aulas, valem para o Ensino a Distância. Por outras palavras, nesta “migração digital” não chegamos no estado nativo mas antes transportamos connosco todo o “equipamento de experiência docente” que adquirimos até aqui.
Não precisamos enunciar aqui as mais-valias do Ensino Presencial relativamente ao Ensino a Distância. Pensamos que todos nós somos capazes de as enunciar sem esforço. Mas será mesmo assim?
Vários autores consideram que esta comparação de vantagens e desvantagens entre o Ensino Presencial e o Ensino a Distância não faz sentido dado que não existem entre si diferenças significativas. Ou seja, tudo o que “vale” para o Ensino Presencial, com que estamos amplamente familiarizados, “vale” para o Ensino a Distância tanto em termos didáticos como relacionais. Dito isto, a tarefa fica bem mais confortável! O professor que somos em contexto de Ensino Presencial será o que seremos em contexto de Ensino Distância, descontadas questões técnicas, as suas limitações e as necessárias adaptações.
Mas claro, que as diferenças existem, entre o Ensino Presencial e o
Ensino a Distância, efetivamente, mas não é essa, de momento, a nossa
prioridade. Ficamos apenas por dois exemplos. O Ensino Presencial garante uma
proximidade física que permite uma leitura constante de sinais físicos, faciais
e de expressões. que o Ensino a Distância nunca poderá atingir. Mas quantas
respostas dos alunos o professor capta e considera quando coloca presencialmente
um desafio, uma questão, aos 30 alunos de uma turma? Dará a palavra a 5, 6 alunos? No
Ensino a Distância, porque o predomínio está centrado na comunicaçãoao escrita,
uma questão colocada à turma obterá 30 respostas, que poderão depois ser
analisadas, compiladas, verificadas, quantas vezes for necessário. Por outras
palavras, “há muito mais” para memória futura no Ensino a Distância do que no
Ensino Presencial. Mas, como dissemos, não temos aqui tempo nem espaço para
dissecar essas diferenças.
3. Como posso sobreviver ao excesso de informação com
que estou a ser submegido(a) sobre Ensino a Distância? E as plataformas que
algumas editoras disponibilizam podem ser caminho único para Ensino a Distância?
Bem, essa “tentativa” de submersão existe! Mas podemos sobreviver-lhe com algum… distanciamento (!) J … Acima de tudo filtrando muito e usando o bom senso. A tecnologia será sempre um instrumento e não um fim em si mesma. Suporta, mas não lidera! Claro que teremos que conseguir inúmeras questões técnicas, mas esse é um desafio perfeitamente ao nosso alcance, um exercício de superação diário e muitas vezes colaborativo.
Relativamente à segunda questão, a resposta é “Não”. As
plataformas disponibilizadas pelas editoras são soluções proprietárias
desenhadas para estarem ao serviço dos seus interesses e produtos, estando
encerradas em si próprias, não garantindo a “liberdade de expressão e ação”
indispensáveis à atividade docente. São ferramentas que podem ser úteis, mas
nunca como caminho único para suporte do Ensino a Distância.
4. Qual é então a melhor solução combinada para passar
rapidamente de Ensino Presencial para Ensino a Distância?
Reduzindo esta resposta à “fórmula mais curta” possível, pois o tempo urge, diriamos que a solução mais simples, necessária e suficiente, poderá ser a que combina:
Um Sistema de Gestão de Aprendizagem + Uma ferramenta de Videoconferência + O Livro Adotado
Ferramentas de videoconferência permitem a realização de videochamadas, associando à voz as capacidade do vídeo, suportando dois ou mais participantes. Um exemplo de ferramenta de videconferência que recomendamos é a Jitsi.
Acima de tudo, importa referir que a decisão sobre a melhor solução a adotar deve emanar da Direção de uma Escola/Agrupamento e não de cada docente. Desse modo, será possível criar uma base de sustentação do ensino comum, suficientemente flexível para permitir uma multiplicidade de abordagens, mas necessariamente tronco comum para um entendimento partilhado ao nível do Agrupamento/Escola. A solução combinada que aqui propomos tem esse grau de abrangência.
5. Quais são as principais características do Moodle
?A plataforma Moodle é um produto ativo e em evolução. As suas principais características são:
- É gratuita, podendo, no entanto, o seu alojamento ter custos para o Agrupamento/Escola.
- Promove uma pedagogia socioconstrucionista (colaboração, atividades, reflexão crítica, etc.).
- Adequado para aulas 100% online assim como complementando a aprendizagem face-a-face.
- Simples, leve, eficiente, compatível, com interface baseada em navegadores de tecnologia simples.
Não compete ao docente instalar ou administrar a plataforma. Essa é uma opção e decisão da Direção do Agrupamento/Escola que pode comprar esse serviço e designar um admnistrador, docente que tratará de todos os procedimentos de organização e gestão. Ao docente, competirá apenas a gestão do espaço das suas turmas. No entanto, também para a organização do espaço da turma deverão ser definidas, ao nível do orgão de gestão pedagógica do Agrupamento/Escola, diretrizes claras que permitam verosimilhança entre os espaços. De outro modo, será muito difícil para o aluno adaptar-se a espaços diversos diferentes em cada uma das disciplinas.
De seguida, sugerimos uma organização modular para esse espaço que tem por unidade a semana de trabalho.
Sessão nº 00
(Data ou Semana) - Indicação do Tema
Fórum standard
Videoconferência
usando o Jitsi (URL )
- ???
- ???
- ???
Tarefas a realizar
1. ???
2. ???
3. ???
- ???
- ???
- ???
Entrega de resultados das tarefas
Dispositivo para
entrega de trabalhos usando a Ferramenta Trabalho
- URLs, pastas,
documentos
Videoconferência
usando o Jitsi (URL)
6. Quais são as principais características do Jitsi?
Jitsi é uma ferramenta de Videoconferência de comunicação em tempo real via Web, uma WebRTC. Está disponível em https://jitsi.org/ .
As suas principais características são:
- É gratuita.
- Não é necessário efetuar registo – bastando apenas escolher uma designação para a sala a utilizar.
- Não tem latência, o que significa que entre o momento de emissão e o de receção não existe atraso.
- Permite a participação simultanea de até 50 pessoas.
- Não tem limite de tempo.
- Disponibiliza Chat.
- Permite gravar as chamadas (via DropBox).
- Permite partilha de ecrã ou vídeos do Youtube.
- Permite fazer streaming direto para Youtube.
- Pode ser utilizada em smartphones e tablets (através da respetiva app instalada).
- É software opensource, isto é, de código aberto, o que significa que está disponível para desenvolvimento por todos que o pretendam.
A criação de espaços de videconferência utilizando o
Jitsi é uma tarefa sem qualquer dificuldade. Uma videoconferência é uma
atividade síncrona que poderá ser utilizada para o grande grupo, por exemplo, no
início da semana para o lançamento de um novo tema e no final da semana para a
realização de uma síntese global em que todos participem sobre o tema em estudo.
Pode, claro, também ser utilizada para reunir com um aluno ou em pequenos grupos
de alunos para o esclarecimento de dúvidas ou a realização de trabalhos de
grupo.
7. Posso realizar avaliação dos alunos em Ensino a
Distância?
A resposta é “Sim, claro!” O Ensino a distância garante condições para o desenvolvimento das competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, tendo a avaliação um papel fundamental nesse desenvolvimento.
E, já agora, importa aproveitar a oportunidade para
refletir sobre a importância relativa da avaliação formativa e da avaliação
sumativa. Avizinham-se grandes mudanças de paradigma a esse nível. O Projeto
MAIA - Monitorização, Acompanhamento e Investigação em Avaliação Pedagógica,
iniciativa da DGE, liderado pelo Professor Doutor Domingos Fernandes, está em
curso. No CFAE_Matosinhos estamos a implementã-lo em dois Agrupamentos e as suas
conclusões e diretrizes chegarão a todos os Agrupamentos/Escolas no próximo ano
letivo. Até lá, deixamos, para reflexão, o conceito de
Avaliação Formativa Alternativa (AFA)
e as suas características, expresso pelo Professor Domingos Fernandes, em Estudos e Avaliação Educacional
(2008).
A AFA deve
permitir que, num dado momento, se conheçam bem os saberes, as atitudes, as
capacidades e o estádio de desenvolvimento dos alunos, ao mesmo tempo que lhes
deve proporcionar indicações claras acerca do que é necessário fazer para
progredir. No caso de ser necessário corrigir algo ou de melhorar as
aprendizagens, torna-se imperativo que professores e alunos partilhem as mesmas
ideias, ou ideias aproximadas, acerca da qualidade do que se pretende alcançar.
(…) Para
clarificar a natureza e funções da AFA, integrando diferentes contributos
teóricos, é oportuno sistematizar nesta altura algumas das suas características
mais relevantes, tais como:
1. A avaliação é
deliberadamente organizada em estreita relação com um feedback inteligente,
diversificado, bem distribuído, frequente e de elevada qualidade tendo em vista
apoiar e orientar os alunos no processo de aprendizagem.
2. O feedback é
importante para activar os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos,
que, por sua vez, regulam e controlam os processos de aprendizagem, assim como
para melhorar a sua motivação e autoestima.
3. A natureza da
interacção e da comunicação entre professores e alunos é central porque os
professores têm que estabelecer pontes entre o que se considera ser importante
aprender e o complexo mundo dos alunos (por exemplo, o que eles são, o que
sabem, como pensam, como aprendem, o que sentem e como sentem).
4. Os alunos são
deliberada, activa e sistematicamente envolvidos no processo do
ensino-aprendizagem, responsabilizando-se pelas suas aprendizagens e tendo
amplas oportunidades para elaborarem as suas respostas e para partilharem o que
e como compreenderam.
5. As tarefas
propostas aos alunos que, desejavelmente, são simultaneamente de ensino, de
avaliação e de aprendizagem, são criteriosamente seleccionadas e diversificadas,
representam os domínios estruturantes do currículo e activam os processos mais
complexos do pensamento (por exemplo, analisar, sintetizar, avaliar, relacionar,
integrar, seleccionar).
6. As tarefas
reflectem uma estreita relação entre as didácticas específicas das disciplinas e
a avaliação que tem um papel relevante na regulação dos processos de
aprendizagem.
7. O ambiente de
avaliação das salas de aula induz uma cultura positiva de sucesso baseada no
princípio de que todos os alunos podem aprender.
8. Depois de dominar o essencial do Ensino a Distância
em que outros “trabalhos” me “devo meter”?
Primeiro importa que nos sintamos à vontade com os espaços e meios do sistema de gestão de aprendizagem adotado no Agrupamento/Escola onde exercemos funções. Mas, depois, o céu é o limite! São inúmeras as ferramentas que temos hoje disponíveis para aplicar em contextos educativos, tornando os nossos ambientes de aprendizagem verdadeiramente enriquecidos. Vai de experimentar, com o apoio do CFAE_Matosinhos, já agora! J
Deixamos aqui apenas uma “pequena” lista dessas
ferramentas: Mentimeter, Socrative, Padlet, HotPotates, Class Dojo, entre tantas
outras.
9. Quais as diretrizes concretas que foram emanadas
pelo ME sobre esta transição temporária e necessária para o Ensino a Distância?
O processo constitutivo e a respetiva implementação de um Plano de E@D preveem diferentes fases de preparação, debate interno, reflexão, levantamento e definição dos meios tecnológicos, entre muitos outros fatores, assumindo-se como um processo dinâmico e de melhoria constante.
A estrutura deste roteiro segue uma lógica sequencial de implementação do Plano E@D, apresentando um conjunto de orientações e recomendações, para um contexto único, nunca antes perspetivado.
Cabe a cada Escola, em função da fase em que se encontre e da sua realidade, refletir sobre os princípios apresentados e desenvolver o seu Plano E@D, encontrando as respostas mais adequadas e potenciadoras do sucesso educativo dos alunos.
Trabalhamos todos com a certeza de que a escola não está sozinha e pode sempre contar com o apoio das equipas de proximidade e dos serviços centrais, através do email apoioescolas@dge.mec.pt.
No processo de mudança para o ensino a distância, o envolvimento de todos os atores educativos na tomada de decisão – direção, conselho pedagógico, coordenadores dos diretores de turma, de estabelecimento, de educação pré-escolar, de educação para a cidadania, coordenadores de departamento, diretores de turma, professores, diretores de curso, centros de recursos para a inclusão, entidades promotoras de atividades de enriquecimento curricular, pais/encarregados de educação, representantes de alunos - levá-los-á a uma melhor apropriação das ações a desenvolver.
O desenvolvimento de um plano de E@D é um processo em constante construção, alicerçado na procura permanente das melhores respostas às características de cada comunidade escolar, quer ao nível tecnológico quer das suas competências digitais.
Um Plano de E@D poderá conter as seguintes etapas:
a) Definição das estratégias de gestão e liderança;
b) Estratégia e circuito de comunicação;
c) Modelo de ensino a distância;
d) Plano de monitorização e avaliação.
Independentemente da sua estrutura e modos de ação, o plano E@D deve ter como intenções chegar a todas as crianças e a todos os alunos, bem como a boa prossecução dos objetivos estabelecidos no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e nas Aprendizagens Essenciais, recorrendo aos meios necessários para tal. Quando se concebe o plano para todos os alunos, este deve ter em conta os princípios já existentes no desenho de medidas universais, seletivas e adicionais que já tinham sido adotadas no âmbito da educação inclusiva.
A articulação com a edilidade e/ou com outros parceiros, por exemplo, as Juntas de Freguesia, as Bibliotecas, as Associações de Pais, as Associações de Solidariedade Social, os Bombeiros, os mediadores do Programa Escolhas, os mediadores de ONG, as organizações da Economia Social, entre outros, podem ser uma forma para chegar a todas as crianças e a todos os alunos.
Esta dimensão assume principal relevância para os alunos com problemas de conectividade e infraestrutura e/ou menor acompanhamento familiar.
1.4. Definir um
papel para as lideranças intermédias na definição e concretização das
orientações
pedagógicas.
As lideranças intermédias assumem um papel essencial no E@D, designadamente:
a) os coordenadores de ciclo/departamento e os diretores de curso, nas questões do acompanhamento e da concretização das orientações pedagógicas;
b) os diretores de turma, na organização e gestão do trabalho do conselho de turma/equipas pedagógicas.
O diretor de turma desempenha uma função central ao nível da articulação entre professores e alunos.
Organiza o trabalho semanalmente, centraliza a função de distribuir as tarefas aos alunos e garante o contacto com os pais/encarregados de educação.
Para apoiarem os docentes, os coordenadores devem demonstrar confiança no seu trabalho em curso, bem como transmitir tranquilidade e disponibilidade para esclarecimentos.
No sentido de agilizar o processo de decisão e a concretização das ações previstas, sugere-se a criação de uma equipa de apoio com diferentes valências, designadamente ao nível das decisões pedagógicas e do apoio tecnológico.
2.1. Estabelecer
um circuito de comunicação eficaz, dirigido a todos os intervenientes da
comunidade escolar.
Todas as ações e atividades de comunicação deverão:
a) nortear-se por uma mensagem central;
b) adequar-se aos destinatários;
c) seguir uma estratégia;
d) ser transmitidas nos momentos e através dos meios/canais mais adequados.
Deve ser claramente definido o papel de cada um, neste processo, bem como as formas de organização de reuniões/encontros/esclarecimentos.
3.1. Decidir
qual a mancha horária semanal a cumprir pelos alunos: fixa ou flexível,
incluindo os necessários tempos de pausa.
Na conceção do horário dos alunos no E@D, deverão ser equacionados os seguintes aspetos:
• mancha horária semanal fixa ou flexível;
• adaptação da carga horária semanal de cada disciplina/UFCD;
• definição do tempo de intervalo entre cada tarefa proposta (tarefas com um máximo de 20/30
minutos, conforme as faixas etárias);
• flexibilidade temporal na execução das tarefas;
• diferentes ritmos de aprendizagem.
Em alinhamento com as orientações pedagógicas da escola, as equipas pedagógicas/os conselhos de turma concebem um plano de trabalho semanal para cada grupo/turma, sob a orientação do coordenador de estabelecimento/diretor de turma ou do diretor de curso.
O E@D pode desenvolver-se através da realização de sessões síncronas e assíncronas, para:
• orientação educativa dos alunos (o que se pretende com cada tarefa, quais as páginas do manual a consultar, de que modo podem colaborar com os colegas, onde podem pesquisar informação adicional, como autorregularem o seu trabalho, por exemplo, através de um portefólio);
• esclarecimento de dúvidas, com horário fixo semanal,
para o estabelecimento de rotinas e conferir segurança aos alunos.
4.1. Promover a
interajuda entre professores.
Neste momento de rápidas mudanças, a partilha e colaboração entre pares assume particular importância. Importa, pois, incentivar a colaboração e o espírito de equipa, conferindo, assim, segurança aos professores, num momento de experimentação de novos modos de ensinar.
5.1. As
metodologias de ensino desenvolvidas no E@D devem ser apelativas e mobilizadoras
dos alunos para a ação.
As metodologias de ensino a distância deverão ser diversificadas, enquadradoras, propiciar a apresentação de exemplos e fomentar a autorreflexão e o trabalho autónomo.
No equilíbrio articulado entre as diferentes disciplinas, deve ser equacionado o tempo global que se prevê que os alunos dediquem à aprendizagem, prevendo um equilíbrio dado a diferentes estratégias e ponderando o trabalho que pode ser feito síncrona e assincronamente, tendo em conta que as atividades e métodos a desenvolver não podem depender do papel e competências dos encarregados de educação, considerando as suas diferentes possibilidades e capacidades.
A mobilização dos alunos para as aprendizagens poderá passar pelo desenvolvimento de projetos interdisciplinares, que levem os alunos a mobilizar as aprendizagens de várias disciplinas/componentes de formação/UFCD. Por exemplo, poderão ser apresentadas tarefas centradas em questões-problema, estudos de caso, projetos, entre outros.
No E@D, adquire particular relevância o desenvolvimento das competências do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, alicerçado nos valores e princípios que apresenta.
A título exemplificativo, poderão ser desenvolvidas as seguintes áreas de competências: informação e comunicação; relacionamento interpessoal; pensamento crítico e criativo; desenvolvimento pessoal e autonomia; bem-estar, saúde e ambiente. A este propósito, é de referir que o E@D é uma modalidade que permite que competências transversais e interdisciplinares sejam trabalhadas de forma integrada e articulada, através da diversificação de formas de trabalho.
6.1. Encontrar
os meios tecnológicos que auxiliam o ensino a distância sem inundar os alunos de
múltiplas soluções de comunicação.
Para o desenvolvimento das atividades de E@D, deve ser criada uma equipa de apoio tecnológico que organiza os meios, dá orientações e capacita os professores, sobre soluções de comunicação. Deve, entre outros aspetos, evitar-se uma dispersão por plataformas e formas de cooperação.
Independentemente de uma seleção de plataforma específica de apoio ao ensino e à aprendizagem por cada Escola, deverão ser rentabilizados os meios tecnológicos com os quais todos estão familiarizados, tais como email, programa de gestão de alunos, blogues, entre outros.
Para o desenvolvimento das atividades de E@D, deve ser criada uma equipa de apoio tecnológico e pedagógico que organiza os meios e, posteriormente, apoia de forma personalizada os professores.
6.4. Capacitar
os professores para a utilização dos meios tecnológicos selecionados.
A partir do diagnóstico das necessidades de cada Escola, a equipa de apoio tecnológico pode dinamizar pequenas sessões de capacitação/esclarecimento ou realizar tutoriais, webcasts, entre outras.
Adicionalmente, deve ser incentivada a partilha de práticas entre professores.
7.1. Desenvolver
atividades promotoras do sentimento de pertença à turma.
Manter a ligação à escola e ao grupo/à turma implica construir espaços em plataformas digitais, para divulgação dos trabalhos efetuados pelas crianças/pelos alunos, bem como fomentar o estabelecimento de comunicações regulares entre professores e alunos e entre alunos. Na educação pré-escolar e no 1.º ciclo, este aspeto assume particular importância.
O desenvolvimento de atividades a distância com os alunos deve centrar-se na criação de rotinas de trabalho, que confiram segurança aos alunos, e que são diferentes das presenciais. Paralelamente, deverão ser desenvolvidas atividades de carácter lúdico, que promovam o bem-estar emocional do aluno, tais como o envio de mensagens em suporte vídeo, sms ou papel.
O contacto entre alunos através de espaços digitais, ou outros meios tecnológicos, é essencial para a manutenção das interações sociais e da sua motivação para a realização das tarefas. As atividades propostas deverão contemplar espaços de interação e de convívio, promovendo o trabalho de grupo e quebrando o isolamento em que os alunos se encontram. É importante prever o papel a desempenhar pelos psicólogos e pelos professores que apoiavam os alunos no apoio tutorial específico, mobilizando todos os recursos disponíveis.
Nesta fase, a interajuda é primordial, devendo ser promovidas técnicas de colaboração entre alunos, quer ao nível da realização das tarefas quer ao nível da regulação interpares.
Poderão ser atribuídas funções específicas aos alunos de uma turma, mediante as suas competências.
Exemplos: consultores digitais, que auxiliam os seus colegas na utilização dos meios tecnológicos; delegado de turma, que fomenta a participação dos colegas na execução das tarefas propostas e ajuda a monitorizá-las, entre outros.
No sentido de permitir a monitorização e a regulação do plano E@D em cada escola, importa:
1. Criar uma equipa responsável por este trabalho (sugere-se um máximo de 3 pessoas), com consulta regular aos alunos;
2. Definir indicadores de qualidade e de quantidade, bem como de periodicidade de recolha.
Como indicadores de qualidade, poderão optar pela monitorização do grau de satisfação dos docentes, dos alunos e dos pais/EE, bem como a qualidade do feedback dado a alunos, visando a monitorização das aprendizagens.
Como indicadores de quantidade, poderão optar, por exemplo:
- taxa de concretização das tarefas propostas pelos professores;
- n.º de tarefas enviadas pelos professores, em função do plano de trabalho elaborado; - disponibilização de meios tecnológicos de E@D;
- apoio ao desenvolvimento de competências digitais de professores e de alunos;
- desenvolvimento de mecanismos de apoio, dirigidos aos alunos sem computador e ligação à internet em casa.
- Sítio de Apoio às Escolas - https://apoioescolas.dge.mec.pt/
- 10 Recomendações sobre o ensino a distância da Unesco
-
OCDE, Education responses to covid-19: Embracing digital learning and online
collaboration, 23 de março de 2020
- meDe, Missão Estratégica Digital da Escola, ANPRI
10. De que forma o CFAE_Matosinhos vai apoiar os
docentes nesta “migração” (temporária) para Ensino a Distância?
O CFAE_Matosinhos oferece formação em todas as dimensões técnicas e pedagógicas necessárias para o desenvolvimento de Ensino a Distância pelos docentes de Matosinhos desde o primeiro ano da sua existência – 2008. Desde essa altura, facultamos centenas de lugares de formação em ações dedicadas à plataforma Moodle e, mais recentemente, a outras temáticas complementares como é o caso da contrução de instrumentos online de avaliação, das aplicações móveis na educação, da gamificação ou mesmo da exploração do conceito de aula invertida.
Acresce que, interpretando a situação atual de contingência relacionada com a Pandemia COVID-19, o CCPFC – Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua deu ao CFAE_Matosinhos a possibilidade de passar formação “em regime presencial” para “regime a distância”. Ora, por decisão do Conselho de Diretores do CFAE_Matosinhos, procedemos assim a um conjunto significativo de alterações ao nosso Plano de Formação concluindo em sessões mediadas algumas turmas que terminavam no final do 2º Período e convertendo em regime a distância 16 das 17 turmas que têm início marcado para o princípio do 3º Período.
Desde 2008, o CFAE_Matosinhos teve oportunidade de fornecer formação em regime de b-learning, praticamente todos os anos e em várias turmas por ano.
Estes factos, municiaram muitos dos docentes de Matosinhos com experiência de situações de Ensino a Distância que agora pode ser mobilizada, havendo “apenas” necessidade de mudar do papel de formando para o lugar de formador.
Ao longo das próximas semanas, teremos oportunidade de
oferecer uma sequência de ACD dedicadas à implementação de Ensino a Distância
que abordarão diferentes temáticas que vão desde a instalação e alojamento de
servidores apropriados (pensando nas Direções que terão que tomar decisões neste
campo) até à gestão e utilização das ferramentas que estão à disposição do
docente num sistema de gestão de aprendizagens.
Para terminar
Acima de tudo, gostavamos de terminar com uma mensagem de esperança! Vamos, certamente, conseguir ultrapassar este fenómeno COVID-19 que distorceu completamente o nosso espaço-tempo, e, como em todas as adversidades, seremos capazes de sair mais fortes e mais experientes e, já agora, por que não, passarmos a incluir nas nossas práticas de trabalho habituais todas as potencialidades que o Ensino a Distância (afinal) encerra e com as quais vamos lidar nos próximos tempos!
Uma certeza - O CFAE_Matosinhos estará, ao longo de todo este processo, onde sempre esteve – cumprindo a missão que lhe foi confiada e que pode sintetizar-se assim:
Nos olhos... a missão talvez idealista, tanto de sonho,
ajudantes de compreender o mundo...
Bibliografia
DGEstE, Roteiro - 8 Princípios Orientadores para a Implementação do Ensino a
Distância (E@D) nas Escolas, Disponível em:
https://www.dge.mec.pt/noticias/roteiro-8-principios-orientadores-para-implementacao-do-ensino-distancia-ed-nas-escolas,
Acedido em 2020-04-01
Agradecemos, desde já, a sua opinião sobre este número - ozarfaxinars@gmail.com
© CFAE_Matosinhos