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Ozarfaxinars
e-revista ISSN 1645-9180
Direção: Jorge Lima Edição e Coordenação: Fátima Pais
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Outubro 2020
A incontornável dimensão tecnológica da atividade docente
Jorge Lima
Pode exercer-se a atividade docente sem recorrer a tecnologia? Arrisco, logo de início, afirmar que não. Bem, se calhar pode, mas a quase totalidade dos docentes utiliza tecnologia na sua ação educativa, sob variadas formas, desde “tempos imemoriais”, pelo que arrisco assim afirmar que existe uma incontornável dimensão tecnológica na atividade docente, um conjunto de meios de que os docentes se foram apropriando, não por acaso, mas por que constituíram instrumentos facilitadores das aprendizagens dos seus alunos.
Eu sou do tempo em que a atividade docente se exercia em sala de aula tendo como suportes tecnológicos: o quadro negro, o pau de giz, o apagador, mapas e modelos empalhados ou em madeira ou gesso, o livro único e, muito de vez em quando, o projetor de diapositivos ou o episcópio e até, pasme-se, o projetor de cinema. Depois, lá longe, ficava a biblioteca que encerrava livros e enciclopédias e onde, acima de tudo, era proibido falar ou mesmo sussurrar.
O quadro negro era o centro de todas as atenções onde os docentes faziam aparecer circunferências primorosamente cortadas por secantes, estigmas e gineceus, ângulos retos, triângulos rigorosamente isósceles, espadas romanas, bacias hidrográficas, elmos etruscos, loooooongas demonstrações de teoremas, raízes quadradas, declinações, palavras estrangeiras, cordilheiras, rebatimentos e vulcões. As técnicas de desenhar, esquematizar, esboçar, escrever no quadro negro a pau de giz, tornaram-se incontornáveis para os docentes apesar do longo reportório de alergias que causaram. E até havia giz de várias cores – um arco-íris com que alguns docentes engalanavam as suas apresentações.
Dos quadros negros deste país foram, diariamente, hora a hora, apagados verdadeiros portefólios, genuínas ilustrações, autênticos posters que literalmente se esfumaram em poeira nos apagadores que depois eram ritmicamente batidos na beira da janela, do lado de fora, não deixando dúvidas a quem passava que aquele edifício era uma escola.
A tecnologia vídeo associada à televisão foi a conquista seguinte. Não demorou muito para que as escolas se organizassem e fosse relativamente simples requisitar e ter disponível com frequência na aula um equipamento misto para visionar documentos vídeo, filmes, documentários… Daí à produção nesse suporte foi um passo… Rapidamente esta tecnologia se tornou incontornável para os docentes.
Com o despontar da Internet, com a WWW – World Wide Web, a rede em redor de todo o mundo, a realidade ultrapassou literalmente a ficção e as previsões mais visionárias. Em 1945, Vannevar Bush, no artigo As We May Think, idealizava uma máquina, que designou por Memex, capaz de armazenar todo o conhecimento existente que seria depois acedível por meios eletrónicos, auxiliando assim as fragilidades da memória humana. A Internet, desde que deixou de ser apenas uma rede de informação militar, caminha para ser essa “máquina” global da humanidade que nunca estará terminada e que constitui hoje uma ferramenta fulcral de apoio às aprendizagens.
Pierre Lévy, no seu livro As Tecnologias da Inteligência – O Futuro do Pensamento na Era Informática, refere: No mundo das telecomunicações e da informática, elaboram-se novas formas de pensar e de conviver. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, efectivamente, da metamorfose incessante de dispositivos informáticos de toda a ordem.
Na entrada deste novo século os desafios tecnológicos que se colocam à atividade docente são, convenhamos, mais exigentes do que foram os anteriores, mas, em contrapartida, possuem inexoravelmente maior potencial pedagógico, passando a ser incontornável para os docentes:
Gerir pastas e ficheiros digitais
Converter ficheiros
Compactar e descompactar pastas e ficheiros
Editar texto, imagens, sons
Produzir cálculos
Criar gráficos a partir de cálculos
Criar apresentações
Gerir correio eletrónico
Pesquisar e organizar informação
Utilizar plataformas digitais
Dinamizar espaços educativos em plataformas digitais
Utilizar e explorar aplicações para dispositivos móveis
Selecionar, criar e modificar recursos educativos digitais
Utilizar e explorar ferramentas digitais de trabalho colaborativo
Comunicar através de serviços de audio e videoconferência
Dinamizar espaços educativos dedicados em redes sociais
Dominar ferramentas de ensino a distância
Gamificar situações de aprendizagem
Participar em comunidades de prática
Os educadores são exemplos para a próxima geração.
Por isso, é vital que estejam equipados com a competência digital
que todos os cidadãos necessitam para participar ativamente numa sociedade digital.
Como cidadãos, os educadores precisam de estar equipados com essas competências
para participar na sociedade, quer a nível pessoal quer profissional.
Como exemplos, precisam de ser capazes de demonstrar a sua competência digital
perante os aprendentes e legar o uso criativo e crítico que fazem das tecnologias digitais.
Enquanto exemplos, eles são, em primeiro lugar,
facilitadores de aprendizagem ou simplesmente: educadores.
Enquanto profissionais dedicados ao ensino,
necessitam, além das competências digitais gerais para a vida e o trabalho,
de competências digitais específicas ao educador
para serem efetivamente capazes de utilizar
tecnologias digitais para o ensino.
R e f e r ê n c i a s
Lévy, P. (1990) As Tecnologias da Inteligência – O Futuro do Pensamento na Era Informática. Ed. Instituto Piaget, Lisboa
Lucas, M., Moreira, A. (2018). DigCompEdu – Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores. Ed. Universidade de Aveiro, Aveiro
Agradecemos, desde já, a sua opinião sobre este número - ozarfaxinars@gmail.com
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