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Ozarfaxinars
e-revista ISSN 1645-9180
Direção: Jorge Lima Edição e Coordenação: Fátima Pais
___72___
Setembro 2017
Oficina de teatro
Uma compilação de Fátima Pais e Jorge Lima
Dedicamos este número da OZARFAXINARS a uma oficina de formação realizada no âmbito de parceria entre a CMM – Câmara Municipal de Matosinhos – Pelouro da Cultura e Pelouro da Educação e o CFAE_Matosinhos.
A ação de formação
C609. Oficina de teatro
Oficina de formação, 80 horas (40 presenciais e 40 em trabalho autónomo)
A Expressão Dramática, aplicada em contexto escolar, quer no âmbito curricular quer em projetos, é potenciadora de sociabilização estimulando a comunicação, a criatividade, o espírito crítico, o autoconhecimento e, ao mesmo tempo, constitui fator de sensibilização para a cultura, instrumento de desenvolvimento humano. Esta oficina visa o desenvolvimento de competências que permitam ao docente a criação de oficinas teatrais, clubes de teatro, dramatizações e leituras dramatizadas dentro das escolas e no contexto de sala de aula.
A ação de formação nas palavras dos formandos
Os momentos que antecederam o espetáculo, foram um misto de emoções. Apesar disso, a união e o companheirismo entre todos, eram tantos que, cada um de nós "guardou os nervos no bolso" para que o outro não se apercebesse. Todos estávamos muito empenhados para que tudo corresse bem e, no final, tivéssemos os merecidos aplausos. O espetáculo foi não só um momento inesquecível que ficará gravado para sempre na minha memória, mas também o resultado um grande crescimento pessoal e profissional.
Ana João
Ser atriz, em cima de um palco, foi o culminar de um trabalho de desconstrução e construção de conceitos, de apreensão de outras realidades, de partilhas e novas amizades. Por um dia, a professora saiu da sala de aula, subiu ao palco, transfigurou-se e realizou-se.
Carla Sofia Reis Pereira
E no principio lá estava o Teatro. O Constantino Nery. Lá dentro, palco e plateia. Na plateia um grupo de professores ansiosos, curiosos, envergonhados, tímidos. (...) E no fim, lá estava o Teatro. O Constantino Nery. Lá dentro, palco e plateia. Na plateia, desta vez, amigos, conhecidos, familiares. No palco estávamos nós. No nosso outro eu. Disfarçados mas com muitos nervos à mistura. Em bastidores aguardávamos a desejada e ansiada entrada. E como em todo o processo, o iniciar, o primeiro passo para as luzes, custou. Mas depois das luzes incidirem, das caras serem descobertas, das expressões serem expressas, das palavras serem ditas, tudo fluiu.
Cristina Reina
Posso dizer que foi das formações que mais gostei de fazer, que mais contribuiu para enriquecer a minha prática pedagógica e que me enriqueceu como pessoa, ser social e pessoal, porque… "O teatro é a poesia que sai do livro e se faz humana." (Frederico Garcia Lorca).
Elisabete Gomes
(...) os objetivos desta ação foram conseguidos, uma vez que me permitiu pôr em prática na sala de aula algumas técnicas e jogos, dramatizações e leituras dramatizadas que experienciei na formação, bem como estabelecer a interdisciplinaridade com outras expressões (...).
Maria Alice Ferreira
Com a realização desta formação considero que obtive as ferramentas adequadas para melhorar significativamente o meu trabalho com os alunos. De facto, a cada sessão percebia que as atividades propostas se adequavam perfeitamente às minhas turmas e muitas delas foram aplicadas em contexto sala de aula. Os resultados alcançados foram muito positivos, deixando os alunos muito satisfeitos e a mim com sensação de realização.
Maria Andreia Mota
Dos temas, assuntos abordados e sugeridos, foram tais a sintonia, particularidades, ligações e interligações, que quase todo o grupo, poderia contar a mesma história. Falou se sobre o uso desapropriado, gasto, equivocado, vazio de sentido, significados e importância, das palavras. Falou se do egoísmo, da solidão, da arrogância, da banalidade, da falta do amor e da sua real importância, dos afetos, da união que padece a humanidade. Da felicidade, das pequenas coisas, dos pequenos gestos, do silêncio, da pressa, do excesso de trabalho, da falta de tempo, de viver, de existir, do passado, do presente e do futuro e muito mais.
Maria da Conceição Martins
Desenvolvi um estudo da personagem, valendo-me de pensamentos e emoções vividas e que pretendi apresentar de um modo realista e verosímil. Empenhei-me na expressão de todos os cambiantes daquele meu outro ser e, agradecendo ao mestre e aos colegas tudo o que com eles aprendi e interagi, desempenhei compenetrada, o meu papel de secretária “tótó, mas nem tanto” ...
Maria Elisabete Lourenço
Este ano decidi pisar outro palco. A decisão não foi fácil. Durante duas horas semanais fugi do palco da vida. Enfrentei a timidez e o medo. Ao princípio com muitas reservas: o receio do ridículo, o receio de não ser capaz, o receio da inaptidão …. Receio, receio, receio… Pouco a pouco, sessão a sessão, o casulo foi abrindo e a crisálida transformou-se em borboleta (literalmente!). Fui borboleta, galo, rocha, camelo, velha, hospedeira, … (...) Passei por diferentes estados de espírito. Despi a alma! (...) E aos meus 62 anos, terminei como criança … como gostaria de permanecer!
Maria Lourdes Sousa
Aprendemos a pensar, a desconstruir com essa mesma reflexão e a resolver dentro de nós algo que inconscientemente nos perturbava. Essa consciência dirigida foi terapêutica a maior parte das vezes. Os beneficiários não fomos só nós. Os nossos alunos usufruíram duplamente deste desafio que nos foi proposto, receberam uma professora mais feliz, pronta para lhes dar mais, para os ouvir e aprender com eles, diferente e melhor.
Maria Manuel Queirós
Quanto ao Formador, William Gavião, fiquei sempre maravilhada como conseguia transmitir de forma mágica e divertida os diversos conteúdos que constituíam a formação. As aulas sempre bem estruturadas, mas tudo apresentado simplesmente, com um sorriso amigo, bonacheirão, camarada. Os meus mais sinceros PARABÉNS!
Maria Margarida Rosário
Uma viagem como esta, não pode terminar assim, tão depressa! Quando começamos a disfrutar do passeio… chegou ao fim. Por isso se hoje a fizesse de novo mudaria algumas coisas. Já não estaria tão receosa, o que me permitiria estar no grupo mais confiante desde o início. Ao chegar ao fim, só me apetece dizer:
- REPETE!
Mónica Rodrigues
Agora domino mais conscientemente, recursos de que já era possuidor. Expor-me agora ou dar-me a conhecer, já não seria da mesma forma. Possuo mais controlo sobre aquilo o que faço e como o quero fazer, ou ainda, aquilo o que digo e como o quero dizer. Chego a encontrar alguma perversão neste processo, nesta nova forma consciente de comunicar.
Pedro Brito
As minhas aulas são por si só uma forma de expressão da arte, através da música. Nada melhor do que juntar duas formas de arte – música e teatro – para me tornar uma profissional mais completa, enquanto veículo de passagem de conhecimento para os meus alunos. Agora utilizo uma abordagem mais criativa e mais cativante.
Sara Vaz
Ao CFAE e à Câmara de Matosinhos/Teatro Municipal fica aqui a sugestão de podermos ter a possibilidade de poder continuar com esta experiência, não querendo ser egoísta, era tão bom poder dar continuidade a este projeto. De uma forma altruísta, dizer também que possam possibilitar esta experiência a outros profissionais da educação, pois tenho a certeza que, tal como eu, a irão considerar uma experiência única, impulsionadora de um enriquecimento pessoal e profissional.
Susana Gouveia
A peça
A Oficina de Teatro culminou com a representação, no Teatro Municipal Constantino Nery, da peça Repete... Repete... encenada pelo formador William Gavião e em que foram atores os formandos da oficina, docentes de Agrupamentos/Escolas Associados(as) no CFAE_Matosinhos.
[A peça na programação do Teatro Constantino Nery]
Texto e dramaturgia criação coletiva (o grupo)
Inspirado na obra “A grande fábrica de palavras” de Agnés de Lestrade e Valéria Docampo
Duração aproximada de 50 minutos
Breve Sinopse
Dois países estão separados fisicamente por uma ténue linha fronteiriça e pela força do real sentido e significado da vida que torna enorme a distância que os afastam. Num país, as palavras sobram, desperdiçam-se, poluem e esvoaçam pelo espaço sem sentido algum. Aqui as palavras abundam mas perderam o seu valor, caíram em desuso e num vazio frio sem qualquer valor e conteúdo. Os seus habitantes falam mas não se ouvem, não se entendem, não manifestam afetos, são estranhos dentro dos seus próprios lares. Neste país as cores e a sua luz são soturnas e lúgubres. No outro país habita o silêncio. As palavras são raras e muito caras. Só as conseguem obter nos saldos, no lixo ou em oportunidades únicas. No entanto, neste país abundam os afetos, a compreensão, a união, a felicidade e o amor. Cada silêncio precioso é preenchido de calor, intensidade e muito aconchego. Todos se conhecem, se ajudam e são solidários. Cada palavra que conseguem adquirir torna-se preciosa e única. Aqui as cores e a sua luz são vivas e intensas. O que poderia acontecer se uma menina do País das Palavras e um menino do País do Silêncio se apaixonassem? Deixaria de haver fronteiras entre estes países? Ou um longo e grande abraço os uniriam juntamente com um beijo repleto de afetos pedindo apenas que se repetisse?
Repete...repete...repete...
Ficha Técnica
Encenação / William Gavião
Figurinos e adereços / Os Professores
Trilha sonora / William Gavião
Desenho de Luz / O Teatro Constantino Nery
Projeções / Os Professores
Actores / Professores Ana Cristina Martins João / Carla Sofia Reis Pereira / Cristina Maria Correia de Sousa Reina / Elisabete Maria Carvalho Gomes / Maria Alice Valente Ferreira / Maria Andreia de Sousa Mota / Maria da Conceição de Oliveira Lopes Martins /Maria de Lourdes Pinto Marinho Teixeira de Sousa / Maria Elisabete Gonçalves Lourenço / Maria Manuel Ferro Pinto Queirós / Maria Margarida Peres Ribeiro do Rosário / Mónica Alexandra Miranda Moreira Rodrigues / Pedro Miguel Amaral Brito / Sara Maria Pinto Costa da Silva Vaz / Susana Mónica Cardoso Gouveia
O formador / encenador
William Gomes Gavião é ator, encenador, professor e formador de Teatro. Nasce a 1 de Junho de 1964 no Rio de Janeiro (Brasil). Frequenta o Colégio Metropolitano de Londres (Rio de Janeiro) onde desde o primário tem como disciplinas curriculares expressão dramática e desenho. Na adolescência funda um grupo de teatro amador (no Engenho de Dentro (RJ) onde faz diversos trabalhos como actor e encenações. Faz o secundário no Liceu de Belas Artes no curso de Publicidade e Propaganda. Forma-se como actor profissional em 1987 na Escola de Teatro Martins Penna (RJ) Registo Profissional: 9040 Livro 45 – Folha 85. A viver desde 1992 em Portugal, funda no Porto em 1995 a Companhia Teatral C.A.I.R - TE (Centro Armado da Investigação e Reflexão do Teatro) e em 2003 a Companhia TEATRO REACTOR – Centro de Investigação Teatral, das quais é fundador e director artístico. [Ler mais]
[O voo apaixonado de William Gavião pelo Teatro]
Entrevista publicada em 21 de Agosto de 2014 na revista online Sotaques Brasil Portugal,
uma plataforma de promoção, comunicação e divulgação da cultura Luso-Brasileira, ISSN: 2183-3028.
O Teatro Constantino Nery
Decorridos quase três anos sobre a reabertura do Teatro, ínfimo tempo mas já largo espaço criativo e de envolvimento cultural, é hora de olharmos o caminho percorrido e de lançarmos em frente novos olhos navegados de projetos, de esperança, de futuro. O objetivo estratégico a que nos propusemos à partida foi lançar as bases para a afirmação do teatro como polo cultural dinamizador da cidade, com ela e virada para ela, mas também para a Área Metropolitana e Região Norte. [Ler mais]
Algumas referências
Boal, A.(1982) 200 Exercícios e jogos para ator e não-ator com vontade de dizer algo através do Teatro. Ed. Civilização Brasileira
Oida, Y. (2001) O Ator Invisível. Ed. Beca Produções Culturais Lda.
Spolin, V. (2000) Improvisação para o Teatro. Ed. Perspectiva
Stanislavski, C. (1936) A preparação do Ator. Ed. Civilização Brasileira
Stanislavski, C. (1938) A Construção da Personagem. Ed. Civilização Brasileira
Agradecemos, desde já, a sua opinião sobre este número - ozarfaxinars@gmail.com
© CFAE_Matosinhos