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Ozarfaxinars
e-revista ISSN 1645-9180
Direção: Jorge Lima Edição e Coordenação: Fátima Pais
___90___
Maio 2020
Aprender e Ensinar História: sem longe nem distância
Coordenação Elvira Rodrigues, Fernando Marques Fernandes, Franklin Silva e Helena Vieira
com a colaboração do Professor Doutor Rui Trindade, do Professor Doutor Luis Alberto Marques Alves e da Professora Doutora Cláudia Pinto Ribeiro
Metamorfoses…
Disse a flor para o pequeno príncipe.
É preciso que eu suporte duas ou três larvas se
quiser conhecer as borboletas.
(Antoine de Saint-Exupéry
Aprender e ensinar História exige que encaremos os
desafios desta sociedade globalizada e os transformemos em oportunidades. A
partilha de boas práticas, através de espaços de encontro, debate e reflexão é
fundamental. No quotidiano nas nossas escolas, de forma presencial ou virtual,
no contexto específico da disciplina, ou de forma inter e transdisciplinar,
desenvolvemos experiências de ensino diferentes e enriquecedoras. A sua
divulgação e o debate interpares assumem-se como inegável contributo à melhoria
das nossas práticas pedagógicas, transformando os desafios em oportunidades com
recurso a metodologias de aprendizagem ativa.
No final do ano letivo
2016/2017, durante uma partilha de boas práticas, a Elvira Rodrigues debruçou-se
sobre aquilo que, ao tempo apelidou de “ensinar e aprender numa escola sem
distâncias” (Rodrigues, CFAE_Matosinhos, 2017), destacando a importância de uma
educação híbrida com recurso às tecnologias no ato de ensino. Ao tempo
apresentou exemplos de metodologias ativas na didática da História com recurso à
sala de aula invertida a partir do “modelo pedagógico 7 E´s” (Okada, 2014)(1).
Desde então acreditamos, e lutamos, pela
criação de uma comunidade de práticas alicerçada na reflexão do trabalho
pedagógico capaz
de levar o professor a assumir-se como o principal agente que faz acontecer,
selecionando o que considera melhor num determinado momento e contexto
específicos. Alicerçados na convicção da importância de
“Ensinar História para dar um Sentido à Vida”
(Alves, 2014), enquanto um “saber âncora” da Humanidade(s) (idem, p. 7). ,
continuamos a perseguir esse objetivo cientes da importância de uma história
viva que permita (des)construir, reconstruir, flexibilizar, com os alunos a
assumirem um papel decisivo enquanto co autores do seu próprio conhecimento, num
ato educativo que se assume como um “processo de participação guiada” (Trindade,
2002:49). Uma História que contribua para uma cidadania em que os afetos, a
“zona de desenvolvimento proximal” de que fala Vigotsky (1978)
ou o “ato de amor” de Sebastião da Gama (Gama,
1962), a transformem em espaços onde o
“professor dá uma mão, abre horizontes e
aquece o coração” (Ribeiro & Nóbrega, 2016).
O espaço formativo
“C692A-18_19 – Cenários de Aprendizagem Inovadores na Didática da História”
assumiu-se como um ponto de encontro presencial e virtual privilegiado de
desenvolvimento e partilha de práticas na didática da História, passíveis de
serem utilizadas tanto pelos colegas do grupo 200, quanto pelos do grupo 400.
Foi um espaço de co construção de conhecimento aberto e de trabalho colaborativo
colegial. Formandos e formadores potenciaram a criação de um grupo/comunidade
com características muito singulares: unido, solidário, divertido, simpático,
sem receio de novos desafios, e intrinsecamente motivado para pôr em prática
tudo que aprendeu. Desafiante, enriquecedor, colaborativo, realizado com timing
e um profundo espírito de teaming, permitiu desenvolver competências digitais e
dominar ferramentas fundamentais para inovar a prática pedagógica, maximizando
as possibilidades que as Tecnologias de Informação e Comunicação oferecem, com
vista a um processo de ensino/aprendizagem cada vez mais ativo e significativo.
A este espaço formativo seguiu-se mais uma turma C.692B-18_19 e ainda dois novos
cursos que decorreram já no presente ano letivo: “C772. Uma História Ativa:
cenários de Aprendizagem Inovadores” e “C.773. Ensinar e Aprender História:
Transformar a História Local em Oportunidade(s)". E, foi durante o último espaço
formativo
que a pandemia da COVID-19 provocou o
encerramento dos estabelecimentos de ensino e os professores foram “COVIdados a
reinventar-se”, com uma “pandemia que veio apenas acelerar uma migração que
estava a ser feita a espaços”
(Bento, 2020).
E este grupo de professores de História
(re)inventou-se em tempos de confinamento com sessões síncronas e encontros por
meet onde projetos de ensino, estratégias pedagógicas e metodologias E@D foram
debatidas e partilhadas… e, de repente, tínhamos tempo (algo tão escasso até 13
de março) para reunirmos, para debatermos, para estarmos…com intencionalidade
pedagógica …cientes de que podemos fazer imenso, com pouco e com recursos a
coisas e ideias simples. Desses debates emergia a trilogia: amor, entusiasmo e
conforto com a tecnologia suportada em verdadeiras tertúlias mediadas sem longe
nem distância em que, parafraseando Mia Couto, nos sujamos com os outros.
E num processo de
metamorfose(s)
(re)nasceu esta revista lançada num encontro
que lhe deu corpo e significado(s)… e é chegado o momento de agradecer a um
conjunto de pessoas que se deixaram seduzir pelo nosso entusiasmo e sem as quais
seria impossível levar avante estes projetos.
Ao Jorge Lima, Diretor do CFAE_Matosinhos, pela
oportunidade, paciência e disponibilidade para, através da Elvira, ouvir os
nossos sonhos, ainda antes de se metamorfosearem em ideias, e permitir que
trilhem caminhos até se transformarem em borboletas.
Ao Professor Doutor Rui Trindade por acreditar, e
aprovar, processos formativos com asas para continuarem a voar e a influenciar
mais professores recomeçando ciclos em que a autonomia e flexibilidade
curricular associada à intencionalidade pedagógica marcam presença. O seu texto
e a sua presença são a prova de que, como um dia afirmaram “todas as
aprendizagens são pessoais, mas ninguém aprende sozinho” (Trindade &Cosme,
2010).
Ao Professor Doutor Luís Alberto Marques Alves, o
Professor, o Mestre e uma incontornável referência no nosso percurso, muito
obrigada pelo belíssimo texto e pela partilha numa sessão em que a emoção marca
presença. Através dela, muitos de nós renascemos e voltamos ao século XX, às
salas da FLUP e recordamos com saudade e especial carinho as suas aulas.
À Profª Doutora Claúdia Pinto Ribeiro, obrigada pelos
seus olhares criativos traduzidos num texto que nos provoca e convoca à ação
reforçada pela sua disponibilidade para partilhar ideias sem longe nem
distância.
Às Diretoras Eufrásia Ramos (ESAG) e Isabel Morgado
(AEPLégua) que dimensionaram neste espaço formativo uma oportunidade de
transformar os sonhos plenos de entusiasmo da Elvira, numa navegação que se
adivinhava poder chegar a bom porto.
Ao Fernando Marques Fernandes pela criação, conceção e
produção do design gráfico e que, juntamente com a Helena Vieira integrou
connosco a comissão organizadora que coordenou este número da revista e este
encontro. O nosso muito obrigada pelo trabalho realizado e pela forma empenhada
e solidária como aceitaram este desafio. Em conjunto demos forma aos 8 C’s do
planeamento estratégico: coragem; conhecimento; competência; confiança;
comunicação; controle; comprometimento e colaboração.
À Escola Secundária Augusto Gomes, palco das sessões presenciais, na pessoa da Diretora Eufrásia Ramos, agradecemos todo o apoio na logística que as viabilizou e que envolveu a colaboração e disponibilidade da equipa de assistentes operacionais.
Ao colega Pedro Sá, coordenador TIC da Escola Secundária Augusto Gomes, agradecemos a disponibilidade para o imprescindível apoio técnico na realização da sessão síncrona por meet. Sem ele, e sem os seus conhecimentos e sugestões, tudo seria muito mais difícil. O nível de maturidade digital da Escola Secundária Augusto Gomes está indissociavelmente ligado ao seu excecional desempenho na coordenação TIC e ao trabalho colaborativo que desenvolve e incentiva.
A todos os Colegas que frequentaram os vários
espaços formativos, e de uma forma muito especial, aqueles que concluíram as
três sequências, e também aos que já integram a CoP, deixamos um Obrigada
recheado de carinho e orgulho pelo trabalho cúmplice e solidário que juntos
desenvolvemos… um trabalho em que todos fomos parte e nenhum procurou ser o
todo… pois esse é de TODOS NÓS que integramos esta CoP com a certeza de que,
como afirma a canção de Pedro Abrunhosa, “não estamos sós na tempestade”.
Parece-nos oportuno terminar estas “metamorfoses”
citando um texto de António Nóvoa que, não obstante ser da década de 90 do
século XX, continua repleto de atualidade e sintetiza estes espaços formativos e
as opções que os nortearam:
“Toda a formação encerra um projeto de ação. E de trans-formação. E não há projeto sem opções. As minhas passam pela valorização das pessoas e dos grupos
que têm lutado pela inovação no interior das
escolas e do sistema educativo” (Nóvoa, 1992:31).
Referências bibliográficas
ALVES, Luís Alberto Marques.
Ensinar História para
dar um sentido à vida! In: Revista Transversos, Rio de Janeiro, Vol. 02,
nº. 02, p. 6-31, mar.-set. 2014. Disponível em: www.transversos.com.br. ISSN
2179-7528.
BENTO, Marco (2020). “Ser professor e ser “covidado” a reinventar-se”. In Jornal Público online, 24 de março 2020. [URL]
GAMA, Sebastião (1962).
Diário. Lisboa:
Edições Ática.
LIMA, Jorge & PAIS, Fátima (2020).
“Ensino a
Distância em tempos de “guerra - COVID 19”. In Ozarfaxinars, nº 89.
NÓVOA , António [coord.] (1992).
Os Professores e a
sua Formação. Lisboa: Dom Quixote. Temas de educação: 1.
RIBEIRO, Claúdia Pinto; NÓBREGA, Claúdia Pacheco
(2016). O professor dá uma mão, abre horizontes e aquece o coração. In:
“História Hoje: Revista de Educação e Ensino”, vol. V, nº 9, pp: 94-112.
RODRIGUES, Elvira (2017). Ensinar e Aprender História: quando os desafios se transformam em oportunidades. Matosinhos: CFAE_Matosinhos.
Disponível em:
[URL]
RODRIGUES, Elvira (2012).
“As Ferramentas Web 2.0
como um Contributo para o Sucesso Escolar. Exemplos de Boas Práticas no Contexto
do Ensino Profissional e Alunos com N.E.E.” In FERNANDÉZ, X. et al Atas do
III Congresso Internacional Fenda Digital. TIC/Escola e Desenvolvimento Local.
Porto: ESEPF.
RODRIGUES, Elvira & GONÇALVES, Daniela (2014).
“Modelos de Aprendizagem Construtivistas em Plataformas Digitais”. In
Escola, J. et al (coord). Rumo à Inclusão Educacional e Integração das TIC na
Sala de Aula. Santiago de Compostela: andavira, pp.710-720.
RODRIGUES, Elvira & ESCOLA, Joaquim. (2016).
“O
Cinema na Aula de História: a dupla face de Janus? Contributos de um estudo
exploratório”. In Revista de História do Cinema e do Audiovisual nº 2, pp.
35-46.
TRINDADE, Rui (2002).
Experiências Educativas e
Situações de Aprendizagem. Novas práticas pedagógicas. Porto: Edições Asa.
TRINDADE, Rui; COSME, Ariana (2010).
Todas as
aprendizagens são pessoais, mas ninguém aprende sozinho: gerir as salas de aula
como comunidades de aprendizagem. Curitiba: Editora Melo.
VYGOSTSKY, Lev (1978). Mind in Society: The Development of Higher Psychological Processes. Harvard University Press.
Formação contínua e aprendizagens culturalmente significativas:
Um olhar marcado pela esperança
Vivemos um tempo em que a reinvenção da profissão docente, mais do que um
desejo, passou a ser um imperativo que dizendo respeito aos decisores políticos,
não pode deixar de responsabilizar, também, os professores pelo seu envolvimento
em iniciativas que permitam concretizar um tal objetivo.
É de acordo com este pressuposto que importa
refletir sobre os projetos de formação contínua e sobre o seu contributo para
que ação profissional docente se passe a definir como uma ação de interlocução
qualificada (Cosme, 2009), a qual implica que o estatuto e o papel dos
professores, dos alunos e do património de informações, instrumentos,
procedimentos e atitudes culturalmente validade, e visto como socialmente
pertinente, deixe de ser concebido em função do quadro concetual e praxeológico
que o paradigma pedagógico da instrução (Trindade & Cosme, 2010) instituiu. Isto
significa, então, que defendo que a reinvenção da profissão docente é um
propósito que nos obriga a refletir sobre as possibilidades de os projetos de
formação contínua contribuírem para que as escolas se afirmem e construam como
espaços culturalmente significativos tanto para os seus alunos, como, por isso,
para os seus professores.
Trata-se de um projeto que, contudo, não pode
ser entendido como uma iniciativa a realizar num futuro mais ou menos próximo,
na medida em que, tal como se comprova pela edição desta revista, há quem já
esteja envolvido em ações que visam contribuir para a concretização daqueles
objetivos, criando oportunidades capazes de potenciar a desejada mudança
educativa.
No caso da formação contínua, e em particular
no caso da ação de formação «Aprender a ensinar História sem longe, nem
distância», defendo que estamos perante uma dessas oportunidades, a qual tem a
ver quer com o facto de se ter investido na constituição do grupo de formação
como uma comunidade de aprendizagem, onde, por isso, cada um contribui, de forma
concomitante, para o seu sucesso e para o sucesso de todos, quer com o
investimento na procura de conceber desafios educativos para os alunos que
possam suscitar aprendizagens culturalmente significativas, Ou seja, constata-se
que, na referida ação, se cumprem as duas condições que permitem compreender as
potencialidades singulares dos projetos de formação contínua como instrumentos
de reinvenção da profissão docente.
Assim, o trabalho de escuta, de interpelação, de apoio e de crítica que a organização de um grupo de formação como uma comunidade de prática possibilita, para além do seu valor instrumental, conduz os formandos a viverem uma situação que contraria frontalmente a cultura profissional individualista (Hargreaves, 1998; Thurler, 2001), o qual tem vindo a caraterizar, em termos genéricos, o modo de estar dos professores nas escolas. Por sua vez, o envolvimento ativo e intencional desses mesmos formandos na configuração de desafios curriculares e de soluções pedagógicas que permitam que tais desafios sejam congruentes quer com o universo intelectual e heurístico da disciplina de História, quer com as possibilidades dos alunos aprenderem a movimentar-se neste universo, é uma experiência formativa decisiva porque permite que os docentes, em situação de formação, possam descobrir-se como professores a partir de uma abordagem diferente da atividade profissional que exercem. O que pode ser interessante, neste caso, é que a tentativa de estabelecer um vínculo cultural entre os alunos e os conteúdos e experiências da disciplina de História, em função do qual se cria a oportunidades desses mesmos alunos realizarem aprendizagens culturalmente significativas, é uma condição decisiva para que os próprios professores encontrem novos sentidos para o trabalho que realizam.
Deste modo, torna-se possível, em primeiro
lugar, estabelecer uma relação pedagogicamente isomórfica entre o que se defende
e pratica no contexto da ação de formação e o que se pretende que se faça,
posteriormente, no contexto da escola e da sala de aula. Em segundo lugar,
tende-se a contribuir para a resolução de um problema que continua a afetar o
campo da formação de professores, o da manutenção da dicotomia insensata que se
estabelece entre a dimensão científica e a dimensão curricular e pedagógica das
iniciativas que se promovem nesse campo, seja o da formação inicial, seja o da
formação contínua.
Uma palavra final para afirmar que iniciativas
como aquelas que estão na origem desta publicação são um sinal de esperança e a
confirmação quer da importância da relação umbilical entre os CFAEs e as
escolas, quer da importância dos formadores e da sua inventividade, quer da
necessidade de se reconhecer o potencial dos professores portugueses, em larga
medida por explorar.
Referências bibliográficas
Cosme, Ariana (2009).
Ser professor: A ação docente
como uma ação de interlocução qualificada. Porto: LivPsic.
Propostas Pedagógicas
T a r e f a_1
Caros Colegas,
Aceitem o desafio de construir uma nuvem de palavras (com recurso ao tagxedo, wordle, wordart, infogram...)
a integrar um plano de
aula da disciplina de História.
Partilhe a sua nuvem de palavras no fórum disponibilizado para o efeito,
indicando:
Módulo/tema/unidade temática.
Momento da aula em que pretendem utilizar;
Objetivos da sua utilização.
[25
abril]
Augusta Estrela
[Revolução
Francesa]
Benedita Barbosa
Céu Granja
Conceição Barbosa
Fátima Soares
[3
canções de abril: a revolução (en)cantada
Fernando Fernandes
Helena Monteiro
[A
Pintura no Estilo Gótico
Helena Vieira
[Os
Rumos da Expansão Portuguesa
Laurinda Santana
[Da
Revolução Agrícola à Revolução Industrial
Luísa
Sobrado
[Estado
Novo
Nuno
Faria
[Antigo
Regime Europeu]
Olívia
Maia
[A
Grande Depressão e o seu Impacto Social]
Paulo
Silva
[A
Guerra Fria
Pedro
Batista
[Descobrimentos
Tereza Costa
[5
de outubro
Vítor
Santos
T a r e f a_2
Caros Colegas,
ou a outra ferramenta que entendam utilizar. Caso não seja o TOONDOO,
por favor partilhem
connosco o link da ferramenta utilizada (e se quiserem algumas dicas).
Após terem produzido a banda desenhada, a integrar um plano de aula da disciplina de História
partilhem o vosso resultado neste fórum
(através da abertura de um novo tópico), mencionando:
Módulo/tema/unidade temática.
Momento da aula em que pretendem utilizar;
Objetivos da sua utilização.
Augusta Estrela
Benedita Barbosa
Céu Granja
Fátima Soares
Fernando Fernandes
[Das
Sociedades Recoletoras às Primeiras Civilizações
Helena
Monteiro
[Espaço: Atenas: a polis; a planta de Atenas; o mar e o porto]
Helena Vieira
João Baptista
Laurinda Santana
[Da
1ª República à Ditadura Militar
Luísa Sobrado
Nuno
Faria
[A
consolidação dos processos de industrialização
Pedro Batista
Tereza Costa
Vítor
Santos
A minha participação nesta formação tem correspondido às expectativas iniciais e como tal tem sido gratificante. Em primeiro lugar por estarmos perante uma formação específica, que é desde logo uma mais-valia pois permite a troca de opiniões, vivências e trabalho colaborativo que potência a nossa prática educativa. O único senão, é o meu comportamento "anti-facebookiano", a minha aversão às redes sociais com as quais não simpatizo.
João Baptista
Devo confessar que cada momento me entusiasma mais, não só pelos conhecimentos que os formadores nos induzem e nos provocam, mas também com as trocas de ideias e de experiências com todos, o que é muito bom, não só para reflexão, mas também para usufruirmos para motivar os nossos alunos. Penso que estas formações específicas são mais-valias para o nosso saber estar, ser e criar ferramentas que propiciem desafios a nós e aos nossos alunos.
Pedro Baptista
Esta formação tem sido verdadeiramente desafiante! Revelou que não é mais uma formação para entrar em contacto com as tecnologias, nem para aprender a trabalhar com elas. É uma formação que nos leva mais além e faz-nos pensar não só sobre as vantagens das TIC em sala de aula, mas sobretudo sobre a melhor maneira de as utilizar e rentabilizar didaticamente. Neste ponto, a partilha de experiências, a meu ver, é o melhor que esta experiência nos está a dar. Permite-nos aprender com colegas, faz-nos sair do casulo onde por vezes ficamos fechados e desafia-nos a pensar "fora da caixa". Apesar do cansaço deste final de ano, esta formação voltou a dar-me o ânimo do início do ano letivo, pois quando penso nos desafios propostos, penso logo como posso rentabilizá-los para as minhas próximas aulas. Os recursos que fizemos motivam os alunos, mas também me motivam a mim! Este espaço formativo ultrapassou em muito as minhas expectativas. Revelou-se um espaço de partilha de ideias, mas também de práticas pedagógicas e didáticas que partem das novas tecnologias. Permitiu-nos sair do nosso mundo profissional individual e conhecer outras práticas para além das nossas. Foi esta partilha de ideias, recursos e experiências que me permitiu "elevar a fasquia". Compreendemos que não entrámos num daqueles cursos de formação em que nos apresentam apenas as novas tecnologias, nem é esperado que apenas façamos recursos com elas. Este espaço formativo levou-nos a pensar mais além, não apenas no "como é que eu faço isto...?", mas antes "O que é que eu faço com estes recursos? Como os trabalhos com os alunos?". Naturalmente, a realização de todos os desafios que nos lançaram consumiram tempo e exigiram um esforço de trabalho contínuo, semana após semana. Porém, a motivação subjacente a todos, a partilha dos trabalhos e os agradáveis e incentivadores comentários frequentes entre pares fizeram-nos "perder o medo" de arriscar e sobretudo de mostrarmos aquilo que fazemos, que aprendemos a fazer e que podermos fazer no futuro. Foi sem dúvida um espaço que me ensinou muito e que me fez crescer enquanto professora!
Helena Vieira
Penso que já foi tudo dito sobre as mais valias das TIC e sobre a partilha de experiências. Corroboro todas as palavras ditas (exceto a aversão ao facebook do João Baptista). Resta, então, dizer que o melhor de tudo isto é o trabalho colaborativo (que cada vez é mais escasso nas escolas, muitas vezes por não haver horários compatíveis...) a imensa quantidade de recursos produzidos em tão pouco tempo e que são úteis a todos nós. Por isso mesmo, acho que se impõe a reflexão acerca da criação de uma plataforma de partilha de trabalho entre os professores de História (para já podíamos ser só nós e depois alargava-se...). Sei que já existe uma página no facebook, também há outros sites mas este seria só para partilhar materiais e ideias (sem a parte do "muro das lamentações" e das legislações). Fica lançada a ideia!
Benedita Barbosa
A formação tem sido um percurso marcado pela partilha de informação e, sobretudo, de experiências. Num mundo mediatizado e informatizado nem sempre a partilha é um dado adquirido. É uma formação que irá perdurar muito para além do seu término, porque a muita informação partilhada e discutida vai levar algum tempo a digerir na sua totalidade, pois exige uma reflexão cuidada e, necessariamente demorada no tempo.
Vítor Santos
A simpatia de todos, o trabalho colaborativo e o desenvolvimento de recursos pedagógico-didáticos têm sido, na minha opinião, as mais valias desta formação. A partilha de informação, de experiências e dos materiais realizados tem sido excelente e têm-me servido de motivação numa altura em que o cansaço nos atinge com maior intensidade. Concordo com a ideia da Benedita: um site de partilha de materiais e ideias seria excelente. Quem sabe não criamos um que depois podemos alargar a mais colegas?
Olívia Maia
De facto num período em que tanto se fala na necessidade de trabalho colaborativo entre professores, eis que ele surge nesta formação de uma forma simples e espontânea; sem pressões, sem imposições, sem reuniões ao final do dia, numa altura em que já estamos cansados de burocracia, “mais do mesmo”, como pensamos frequentemente. Parece-me que para além das aprendizagens novas que todos temos feito, procurando responder a cada desafio, e que são sempre uma mais-valia, os nossos formadores conseguiram, sem pressões e de uma forma subtil levar-nos mais além- à partilha, ao trabalho colaborativo. E como é difícil os professores partilharem, não concordam?
Fátima Soares
Cada vez mais é necessário trabalharmos em estreita colaboração com os nossos pares (de grupo ou não). O trabalho em equipa é deveras proveitoso, e a prova está aqui neste texto, que na essência será o todo pelas partes. A partilha de saber e de ferramentas que existe nesta formação é de facto um dos pontos fortes da mesma, a par da disponibilidade e do incentivo dos nossos formadores. Esta formação composta por desafios, espaços de partilha e discussão, leva-nos a refletir, analisar e a experimentar ferramentas (conhecidas ou não). Os desafios levam-nos a querer fazer, ver e partilhar. Todos temos vontade ir mais além nos nossos conhecimentos de TIC/REA, saindo assim da nossa zona de conforto. Dou por mim a falar com colegas da escola sobre aquilo que vou fazendo e tenho pena que o tempo me fuja e que não permita desenvolver um pleno trabalho colaborativo pleno de partilhas.
Augusta
Estrela
Dou por mim a experimentar ferramentas que eram, até esta formação, proibitivas ainda que já tivesse utilizado algumas, mas construí-las...nem pensar, eu sou uma professora de gestos, de palavras , de afetos, que adoro comunicar "olhos nos olhos", daí ser tão avessa às novas tecnologias, embora lhes reconheça grande utilidade nos dias de hoje, mas depois leio os comentários dos meus colegas e "invejo" o seu entusiasmo e apreço pelas TIC e, "embora com cautelas e caldos de galinha", deixo - me levar e vou até onde o " aprender fazendo" me leva.
Maria do Céu Granja
Entrei nesta formação como estivesse a experimentar bungee jumping: estava com medo, hesitei, mas levei um "empurrão", que muito agradeço aos formadores, e aqui estou a voar/pedalar para tentar acompanhar os colegas. Como entendo a colega Maria do Céu, eu também tenho pouca empatia por estas ferramentas digitais, mas depois quando as utilizo ou melhor quando as consigo utilizar e vejo o resultado, fico super entusiasmada e orgulhosa da criação. Reconheço a sua utilidade prática, facilitadora da aprendizagem e acima de tudo motivadora para os nossos alunos. Concordo com a Fátima Soares quando afirma que não existe muito a cultura da partilha entre os professores, ainda persiste muito o professor/ilha. Esta formação também vem trazer esse espaço de partilha do saber e obriga-nos como diz a colega Helena Monteiro a "pensar fora da caixa". Tenho ficado realmente surpreendida ao ver os materiais que os colegas constroem em resposta aos desafios.
Maria Tereza Costa
Esta é a formação que eu ansiava e temia...
"ambientes inovadores", por vezes inibidores face ao domínio das tecnologias que
muitos colegas revelam. Desafios que antes de mais são colocados a nós mesmos, à
nossa capacidade de adaptação a um mundo que corre mais rápido do que nós.
Desafios à criatividade, à capacidade de inovar e fazer diferente. E depois há o
grupo que, tal como eu, está ávido de aprender e de ensinar, de partilhar e de
cooperar. Sim, porque se é difícil partilhar é muito mais difícil cooperar e
desta partilha desinteressada de todos nós resultará certamente a possibilidade
de um trabalho verdadeiramente colaborativo. O entusiasmo resiste, mas o receio
continua. Cada semana, cada tarefa desafiadora é um obstáculo a transformar em
possibilidades de trabalho a concretizar com os alunos que são afinal a razão de
ser de tudo isto! Ao
pensar nos “Desafios e Oportunidades” deste curso de formação e, em particular,
deste espaço formativo, ocorreu-me o texto de Moran, “Metodologias ativas para
uma aprendizagem mais profunda”. De facto, o grande desafio foi assumir o papel
de aprendiz proativo, envolvido em atividades, tarefas, desafios que
transformaram as inseguranças e limitações em motivação para a construção de
novos conhecimentos e competências digitais. Senti também que as aprendizagens
que realizei resultaram, tal como é referido por Moran, do caminho que percorri
individualmente, de tudo o que aprendi com os restantes elementos do grupo e da
orientação experiente dos formadores, que me ajudaram a “ir mais além” do que
alguma vez conseguiria sozinha.
Os desafios lançados constituíram oportunidades de conhecimento de mim mesma,
das minhas capacidades e dificuldades e, cada recurso produzido, um obstáculo
ultrapassado! O regime de b-learning permitiu que este espaço formativo fosse um
ambiente inovador de aprendizagem onde existe espaço de interação, partilha,
interajuda, mas também um caminho que se percorre sozinho e que nos dá grande
satisfação pessoal.
Este é o caminho que pretendo continuar a percorrer … aprender e ensinar!
Luísa Sobrado
Não podemos esquecer que a Escola é cada vez mais um espaço dinâmico, onde se cruzam realidades / experiências muito diversificadas, pelo que se torna imperativo o conhecimento de novas metodologias de ensino. Promover o sucesso educativo dos alunos e, por outro lado, contribuir para que estes adquiram competências específicas essenciais para uma adequada integração socioprofissional, é cada vez mais um desafio!
Conceição Barbosa
Reitero as palavras dos meus compagnons de route. Vim parar a esta formação graças a um alinhamento cósmico, ou lá como se diz na linguagem new age e thank god i did it: é uma formação específica, com formadores e formandos bem formados, motivados e motivadores. Faz-nos querer coconstruir, pensar, trabalhar, pesquisar (só coisas boas) e, para além de nós abrir horizontes na didática da História e no mundo das tecnologias de informação e comunicação, acho que tem como grande objetivo fazer-nos mudar de paradigma, tornar a nossa prática mais consentânea com as exigências deste século, trabalhando em conjunto, sem "avareza intelectual ". Nunca pensei que o blended learning aproximasse tanto as pessoas, nem que a coaprendizagem fosse tão exequível, estimulante e desafiante. Tem sido um prazer, mesmo em final de ano, submersa em trabalho e papeladas. Também acho interessante a ideia de partilharmos os materiais criados no âmbito desta ação. Tenho visto trabalho fantástico que adoraria utilizar nas minhas aulas. Vamos lá “utilizar a educação aberta para a comunicação e construção colaborativa de conhecimentos abertos". Nunca pensei que o formato b-learning permitisse tanta partilha, tanta reflexão, tanta interação. Foi efetivamente um espaço de co construção de conhecimento aberto e de trabalho colaborativo interpares. Os formadores, sempre presentes, pragmáticos, atentos e motivadores [Top ! Top !Top! em linguagem adolescente] potenciaram a criação de um grupo/ comunidade com características muito singulares: unido, solidário, divertido, simpático, sem receio de novos desafios e motivado internamente para pôr em prática tudo que aprendeu. Agradeço a todos as reflexões, opiniões e os comentários aos trabalhos realizados.
Helena Monteiro
O “alinhamento cósmico” que nos presenteou com a Helena Monteiro fez-me recordar Miguel Torga ”Chegar à Índia ou não / é um íntimo desígnio de vontade/ (…) Basta que nos momentos de terror (…) o ânimo enfrente/ A fúria do Adamastor”. Efetivamente, a frequência de uma ação desta natureza, “… mares nunca antes navegados”, por mim, e particularmente os desafios propostos levaram-me a empreender mais uma “viagem” neste “Oceano de potencialidades”, ora navegando com ventos brandos e favoráveis, ora enfrentando alguns “Adamastores”. Comecei a sentir a sua crescente fúria ao idealizar a realização do meu filme: - O que fazer? - Como fazer? - Que aplicações utilizar? A cada imagem recolhida, a “Nau” baloiçava, a cada palavra lançada para o telemóvel, digo para o Diário de bordo, para registar os episódios da viagem a Nau ameaçava desfazer-se… Juntamente com os meus compagnons de route renomeamos o Cabo que acabamos de dobrar e seguimos com Esperança o “caminho para a Índia” com toda a “fé de um marinheiro” com larga experiência, mas “sempre em idade escolar”. Confesso que esta ação foi das mais enriquecedoras que frequentei. Contribuiu para aperfeiçoar e alargar os meus conhecimentos no âmbito da utilização das novas tecnologias e, certamente, propiciará uma melhoria do meu desempenho profissional e um maior enriquecimento pessoal. Aos formadores e colegas deixo os meus agradecimentos!
Paulo Sérgio Silva
A diversidade versus racionalidade dos materiais
disponibilizados, a clareza nos propósitos, a disponibilização de suportes e a
sua adequação às tarefas propostas suscitaram-lhe, depois de um momento de
profunda hesitação, o interesse e motivação que foram permitindo uma
operacionalização do trabalho a realizar. A assunção de que uma formação eficaz
de professores é um fator de vital importância na garantia de uma maior
fiabilidade no processo de ensino e de aprendizagem, consubstanciado nesta
formação permite-lhe considerar, por isso, que a seleção dos conteúdos desta
Ação de Formação está a ser adequada e a revelar-se de grande utilidade na
aplicação no campo objetivo da ação, na medida em que poderá contribuir para
exercer um efeito potenciador, no processo de ensino e aprendizagem, com as
realidades muito diversificadas com que nos vamos deparando no quotidiano.
Palavras-chave como partilha, reflexão, dinâmica de grupo, debate, gestão de
emoções, trabalhos individuais, num ambiente bem gerido, simpático e empático,
podem caracterizar as estratégias, atividades e clima desenvolvidos que permitem
trabalhar, com significância, os conteúdos selecionados com vista à prossecução
dos objetivos propostos. Apesar de inúmeros fatores extrínsecos os professores,
como se vai constatando por todas as intervenções e partilhas desempenham,
apesar de tudo, as suas funções perseguindo, no seu quotidiano, a "procura
incessante" da qualidade do serviço que tentam prestar à comunidade educativo.
Presumo que o “Mar Tenebroso” e “O Cabo das
Tormentas” já se transfiguraram na “Esperança” de chegar a “bom porto”. Esta
ação marca mais um ponto de reinício naquele processo, saboroso, de reinventar
estratégias e materiais didáticos.
Nuno Limpo Faria
A forma como esta Ação de Formação foi estruturada (confesso!... inicialmente pareceu-me muito difícil de concretizar, até pelo meu limitado domínio das tecnologias!) tem sido, para mim, um enorme DESAFIO! Tudo é novidade, tudo obriga a um trabalho de descoberta, de desconstrução, de "desinstalação", de inúmeras tentativas... Mas o resultado tem sido muito, muito profícuo! Os recursos produzidos têm-se revelado muito originais, de grande utilidade pedagógica, refletem, sem dúvida, muito conhecimento acumulado e permitem uma "lufada de ar fresco" na sala de aula. Aos formadores e aos meus colegas formandos, aqui fica o meu reconhecimento por este percurso tão motivador! A primeira impressão foi de algum receio, pelo facto de poder não estar à altura de tamanhos desafios! No entanto, à medida que iam surgindo e eram superados (à custa de muita persistência e ajuda!...), o receio deu lugar à curiosidade, admiração, satisfação e vontade de fazer mais e melhor, por contactar com experiências e ferramentas digitais que permitiram a produção de materiais pedagógicos únicos, a possibilidade de fazer o meu próprio "manual". Uma palavra de agradecimento aos formadores, por proporcionarem, de uma forma muito próxima, positiva e pragmática, uma experiência tão enriquecedora e aos colegas, uma palavra de reconhecimento, pela qualidade dos recursos produzidos e partilhados.
Laurinda Santana
Quando tudo está dito, sobra suscitar uma questão dilemática: a da bipolaridade tensionária entre o professor produtor e o professor recoletor,
no contexto da proletarização da função docente.
Fernando Marques Fernandes
A História é criativa (e os professores também)
Cláudia Pinto Ribeiro
Docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - CITCEM
Em 2010, num artigo intitulado “Relatos da caixa preta:
representações como elemento da cultura escolar” , António Almeida Neto
introduzia o seu estudo com uma série de perguntas que, segundo a minha
interpretação (maldosa, assumo), tinham um carácter tão provocatório, como
inocente:
Poiesis, do grego, significa criação, formação, ação de
fazer algo. Sobre a educação e, mais especificamente, o ensino de História é de
se perguntar: são ou têm sido potencialmente cria-tivos e criadores? Possuem uma
poiesis? O ensino dessa disciplina tem possibilitado algum tipo de criação?
Deveria potencializar atos criativos? Pensam os professores de História sobre
aquilo que sua disciplina cria? Teriam esquecido ou nunca souberam? Teriam
perdido a poiesis nos meandros do cotidiano escolar? (NETO, 2010: 174).
Mas não são a criatividade e a criação qualidades
intrínsecas ao ato de ensinar? Não é o ensino da História potencialmente
inspirador da criatividade? Podem os professores de História não pensar sobre
aquilo que a História cria?
As minhas perguntas carregam o preconceito de quem
pensa saber as respostas, como se fossem evidentes. E já todos sabemos, pela
pena de António Nóvoa, que tudo o que é evidente, mente. Evidentemente.
Em meados do século XX, Anderson (1959) perguntava
porque é que a criatividade das crianças era quase inesgotável e nos adultos
quase inexistente. Quarenta anos mais tarde, Sternberg e Williams (1999) tinham
encontrado uma explicação possível: era difícil encontrar criatividade nos
adultos porque a sociedade reprimia o seu potencial criativo ao pretender
formatar com moldes inflexíveis, pouco maleáveis. Não é por acaso que alguns
“velhos do Restelo” continuam a apregoar, bem alto, que a escola mata o
génio.
Contudo, dentro da sala de aula, nada é linear. Se a
literatura consolidou, de forma perspicaz, a metáfora da sala de aula como a
caixa negra do ensino, eu prefiro a ideia de que a sala de aula
se assemelha mais ao Cubo de Rubik. É um autêntico
quebra-cabeças, um "cubo mágico", como o seu inventor inicialmente o apelidou,
em 1974. Mas, para mim, o que me fascina é o número total de combinações
possíveis: 43 252 003 274 489 856 000. Penso, todavia, que,
numa sala de aula, este número peca por defeito!
E também é dessas combinações possíveis e complexas que
surge este encontro. Dois formado-res e duas mãos bem cheias de
formandos mostram como das nuvens que parecem pássaros e árvores e estrelas
feitas de palavras se fazem esquemas conceptuais. E como de tiras de banda
desenhada se escrevem estórias, excelentes pontos de partida para aprender a
História que se diz ser carrancuda e séria.
Poder-se-ia dizer que este encontro de
vontades criativas foi o resultado de quem viu na adver-sidade dos “tempos
modernos” (atuais) a ocasião para fazer diferente e chegar mais longe, negando a
distância obrigatória que nos separa.
Mas não poderíamos estar mais errados.
A determinação em se percorrer outros caminhos, em
utilizar outros meios e produzir as suas ferramentas de trabalho não é de agora.
Nem foi uma escolha. É uma “estranha forma de vida” a que estes professores não
se podem furtar.
São estes professores que tornam evidentes as respostas
às questões colocadas há pouco. Podem estes ensinadores não ser criativos quando
são tão generosos no modo como (se) dão (n)as aulas? Não é o ensino desta
História ativa inspirador de outras abordagens e perspetivas
(que não precisam ser novas, pois os Gregos já inventaram
tudo!)? Não é este encontro o resultado imediato da
partilha de reflexões fundadas numa prática séria, sistemática e organizada no
lufa-lufa do dia a dia e das turmas numerosas e dos programas infinitos e das
reuniões infindáveis…?
Eu diria que sim, mas sou a suspeita do costume. Porque sei que a História é criativa e estes professores também.
Comunidades de aprendentes
Luís Alberto Marques Alves
Docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - CITCEM
“A lógica da inovação educacional orienta práticas que estão situadas na base de
sistemas escolares, às vezes em estabelecimentos individualmente considerados e
outras vezes em organizações locais entendidas como associações comunitárias. Ao
seguirem a lógica da inovação, as práticas educacionais diferenciam-se do que
costuma ser praticado junto a determinado grupo social em determinado lugar.
Assim sendo,
a inovação não se distingue por
qualquer qualidade original, antes, porém, está marcada por sua diferença em
relação ao que é costumeiro” (GHANEM, 2012).
A leitura dos vossos contributos resultantes do
trabalho colaborativo que desenvolveram e ao chegar aos vossos comentários
finais, não pude deixar de pensar nos profetas da desgraça e nos arautos da
inovação. Os primeiros gostam de criar problemas, obstáculos, dificuldades,
partilharem manuais de instruções de novos problemas, … cobrem-se normalmente
com vestes de tons cinzentos, têm olhares fugidios, carregam quase sempre
importantes obstáculos e são conhecidos por Sísifos. Os arautos da inovação, têm
normalmente espaço privilegiado nos canais do cabo (os de TDT são demasiado
básicos para eles e até humilhantes), têm acesso a revistas indexadas, expressam
semanalmente opiniões na imprensa, têm um olhar sobranceiro sobre as coisas,
evidenciam uma postura semelhante àquele que parece ter o rei na barriga …
vestem fatos de marca, têm gravatas às cores, circulam sempre com portáteis de
última geração em pastas de marca e são conhecidos como “Opinion Makers”. Estes
últimos são regularmente consultados por quem tem a
ingente tarefa de decidir.
Os excelentes trabalhos que fizeram, e sobretudo a comunidade que criaram, são a
prova que os primeiros não têm razão, e os segundos ainda terão de passar por
muitas salas de aulas para que as suas brilhantes ideias tenham algum
fundamento. As nuvens de palavras que vocês criaram, deviam ter salvaguardado um
espaço para estes segundos aterrarem.
Vocês, conseguiram exemplificar e responder à pergunta a que Jean-Michel
Blanquer (um ministro da educação francês) e Edgar Morin procuraram responder no
livro “Quelle École voulon-nous?. La passion du savoir” (2020). A vossa escola
tem obrigatoriamente de ser aquela que responde ao grande desígnio de uma outra
obra de Morin, “Ensinar a Viver. Manifesto para mudar a educação” (2015).
Diz-nos ele que “A finalidade da reforma da educação, não é outra senão o bem
viver de cada um e de todos, principalmente dos professores e dos alunos, e
requer de ambas as partes a regeneração de Eros. Isso é possível porque essa
regeneração já existe em ambos. Naqueles que estavam plenamente conscientes da
vocação de ensinar, Eros encontra-se presente no amor pelo saber que transmitem,
no amor por uma juventude a ser educada. Nas crianças e jovens existe uma
fantástica curiosidade por todas as coisas, com frequência desapontada por um
ensino que divide a realidade do mundo em compartimentos separados, ou mesmo
pela literatura que se converte em algo rebarbativo na era semiótica.” (MORIN,
2015).
Ora, não apenas na conceção da formação, como sobretudo na dinâmica que ela
criou, eu vislumbrei paixão pelo saber diferenciado e interdisciplinar, pelo
conhecimento colorido com recursos apelativos e motivadores, pela preocupação na
naturalização da diferença, pela divinização da colaboração e partilha, por
aquilo que o Fernando Marques Fernandes apontou como “bipolaridade tensionária entre
professor produtor e professor recoletor, no contexto da proletarização da
função docente”. Vocês transformaram essa proletarização a que nos querem
condenar, num manifesto da profissionalidade docente que urge eleger como
objetivo fundamental. A proletarização pode ser a situação problema, mas a vossa
capacidade de orientação nos escombros de espaço minado para onde nos querem
remeter, evidencia o culto ao Eros (paixão) que só os verdadeiros profissionais
ainda conseguem preservar.
A partilha com que me honraram, ajudou-me também a pensar que muitas vezes nós percorremos um caminho solitário que mais parece uma Via Sacra. Porque, às vezes, vemos e ouvimos mais os que nos pretendem distrair, ou marginalizar, ou secundarizar, ou menosprezar … ou no mínimo desvalorizar, e qual Descartes, a dúvida toma conta de nós e o ceticismo e a incerteza, atraiçoa a nossa paixão. Temos de evitar este adultério pedagógico educativo reiterando o nosso verdadeiro amor à nossa profissão, aos nossos alunos, aos colegas que connosco pretendem percorrer o mesmo caminho ou, como nos ensina Hannah Arendt no seu livro de Ensaios saído em 2019, temos de “Pensar sem Corrimão” sem medos, porque, e esta Revista é um bom exemplo disso, há sempre alguém ao nosso lado que não se importará de nos dar a mão! … E a vossa borboleta simbolizará a verdadeira transformação.
V e r s ã o p a g i n a d a
F i c h a T é c n i c a
Título: Ozarfaxinars, n.º 90. Aprender e Ensinar
História: sem longe nem distância.
Coordenação: Elvira Rodrigues, Fernando
Marques Fernandes, Franklin Silva e Helena Vieira
com a colaboração do Professor Doutor Rui Trindade, do
Professor Doutor Luis Alberto Marques Alves
Endereço eletrónico:
https://www.cfaematosinhos.eu/Ed_ozarfaxinars_n90.htm
Agradecemos, desde já, a sua opinião sobre este número - ozarfaxinars@gmail.com
© CFAE_Matosinhos